Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

26 setembro 2010

Tempo, dizem que o tempo cura tudo, mas o tempo não cura nada, o tempo não faz passar, o tempo passa por nós e não nos leva o que se sente, apenas nos faz mastigar o que vivemos, faz-nos recordar e reviver, até que essa vida se torne mais distante, mais arrumada em nós, num sítio mais dificilmente alcançável, mais fundo, onde é mais dificl tocar-nos, mas não apaga, dá-nos apenas uma perspectiva diferente, dá-nos o olhar para trás e acomoda-nos vagarosamente na realidade presente. Obriga-nos a isso, a conformarmo-nos com o que não foi. O tempo reorganiza-nos o espaço interior e dá-nos espaço para nos protegermos até de nós, dos pensamentos, imagens, sons, conversas, momentos que não voltarão. Mas quem uma vez nos habitou bem o coração, jamais de lá sai porque o tempo passa, fica sempre. Um grande amor só deixa de o ser com outro grande amor. E esse pode acontecer, quando a nossa alma se reorganizar e acomodar, quando conseguir conformar-se com a realidade cada vez mais distante do que recordamos ainda e sempre com um sorriso especial. Se não houver um novo grande amor, qualquer coisa, um olhar, um gesto, uma palavra, um passo em falso faz reacender aquele que ainda nos habita, arrumadinho e calado, por muito tímido que seja esse reacender. O tempo não é a cura, mas tem de passar para que outro amor seja possível, sendo possível que nunca aconteça.

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