Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

12 fevereiro 2014


"(...) E houve um ano em que entendi que podes levar as pessoas onde quiseres mas não lhes podes pôr amor dentro. Que há, mais que um cansaço, uma atitude existencial por dentro que não consegues tirar com mais mimos ou mais spas que lhe atires contra. Houve um ano em que entendi que há cansaços que não são desculpa para nada e são desculpa para tudo. Houve um ano em que entendi que há cansaços que, no alfabeto de alguém, são anagramas para falta de amor.

Houve um ano em que compreendi pela negativa que o resultado pode ser ortogonal ao esforço. Por mais que faças, não consegues que entendam ou apreciem porque o fazes, ou, mesmo que entendam isso, não interessa nada, porque não te correspondem, acham que não precisam de te corresponder.

Houve um ano em que entendi que as palavras não significam nada. Quem há quem diga amor e ache que isso quer dizer conforto, ou estabilidade, ou acomodamento. Houve um ano em que entendi que um bilhete de avião para ir a Londres on Valentine’s Day ter com alguém não significa nada senão uma oportunidade de passear, e que é possível chegar ao fim do dia cansada e a querer dormir porque no dia seguinte te vais querer levantar cedo para ir às compras. (...)"


Coisas do Menino...

Quanto a mim, houve um ano em que percebi o que é ter-me enganado tantos anos acerca do que é ser amada, porque nunca fui. Um ano em que o dia de S. Valentim me lembra que todos se empolgam por assinalar um dia com grandes coisas, que eu só queria comemorar todos os dias com pequenas coisas, mas que nem vontade para isso agora tenho. Não quero nada. E que, na verdade, é o que tenho: nada. 
É o ano em que recuo à minha adolescência para me lembrar dum beijo a meio dumas escadas enquanto chovia, para depois correr de mão dada e sorriso aberto até ao abrigo mais próximo e aí, acabar  a seco, o beijo molhado e prolongado e colado como todos os primeiros beijos devem ser. Lembro-me dessa paixão que me queimou e me doeu e me matou e me refez, sem nunca se calhar me ter completamente refeito, e que não me deu nada - nem de perto-, do que o amor que dei e senti nos últimos anos, que era Amor, mas era um Amor apaixonado muito doce, muito bom e muito completo, que me fazia sentir inteira e completa.  Lembro-me duma surpresa que fiz, dumas fotografias que tirei para à distância dizer que estava aqui, e que era ainda tua, como sempre. Lembro-me de saber que tudo isso deitaste ao lixo, sem complacência. Lembro-me de pensar há algum tempo que tolice iria eu fazer este ano para te pôr um sorriso nos lábios, que apesar de tudo, quero sempre provocar e regalar-me só a imaginá-lo. Lembro-me como sou triste na minha estupidez tão alegre... lembro-me que tudo é, invariavelmente, um desperdício de vontade e tempo. E que desisti. Lembro-me que desisti e tenho de mo relembrar de tempos a tempos. Desisti.
Lembro-me este ano - principalmente este ano - que tudo acaba e que os dias não são nada. E que não gosto deste dia que aí vem de S. Valentim, lembra-me que as minhas paixões acabam mal e que o Amor não é para mim. 

2 comentários:

Unknown disse...

O amor é para toda a gente, Eva. Tens de começar é por gostar de ti. Gostas?

Eva disse...

Não concordo contigo, o Amor não é para toda a gente. Há quem nem chegue perto, uns porque não têm capacidade de amar realmente outros porque têm muito medo de descobrir que têm e vêem nisso uma fraqueza e acham que são mais fortes sem Amor... ora nem uns nem outros me parecem merecedores do Tesouro... mas isto sou eu!
E para responder à tua pergunta: sim, gosto de mim (no geral pelo menos, se formos a pormenores desgraço-me...), mas também aí estou muito sozinha, e por isso, muitas vezes me apetecia ser diferente do que sou, seria mais fácil viver, mais leve, e provavelmente, mais feliz, só não seria eu a ser feliz... enfim pormenores.