Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 agosto 2014



"Às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não para fugir, mas para descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira."

Marla de Queiroz

[...sim dormir para descansar do mundo de fora e tentar calar o de dentro. Dormir e estar com quem nos faz rir, nos faz bem, nos faz sentir bem e que gosta de nós e de quem gostamos. Entre conversas e risos o passado pesado vai caindo por entre os dedos, mas, às vezes, a meio duma gargalhada, surpreende-nos ainda, e parece que fechamos as mãos para não nos escapar, como se estivéssemos a perder algo valioso, algo nosso. Depois percebemos que estamos só a tentar guardar o que nos apodrece e deixamos de fazer força, e deixamos que livremente o que tiver de cair, caia. Afinal nenhuma mão segura a nossa, para que juntas, em cima desse passado que se guardaria preciosamente embrulhado em amor, construíssem um abraço que não se desfazeria, sem precisar forçar a força da união, deixando apenas cair o que tivesse de cair e nascer o que fosse para nascer. E depois percebemos que o que nos escapa por entre os dedos é também isso, viver o que seria para viver. 
Sim, às vezes é preciso dormir - e eu bem preciso - e é o que agora vou tentar fazer, esperando escapar por entre os dedos dos sonhos que não me deixam e me agarram com força há semanas, como se também os sonhos não me quisessem perder, não me libertassem. Mas são meus, e eu é que me perco neles e por eles. Eles sou eu e eu sou eles. Só escaparei deles quando escapar de mim, quando deixar de fechar as mãos para não perder o que nunca foi meu. Às vezes é preciso deixarmo-nos adormecer, entregarmo-nos ao que vier, abrir as mãos e fechar os olhos. Dormir.]

Boa Noite

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