Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume
[grande verdade, a angústia e o desespero não deixa a lucidez ver nítido. Absorve todos os sentidos, todos os sentires e abafa toda a razão, apaga todos os raciocínios bem intencionados de ordem. Talvez a sabedoria seja deixar passar a angústia e o desespero, reconhecer a sua ausência consciente, para deixar a lucidez analisar e decidir.
E depois, o que se decide com lucidez não se duvidar, mesmo quando o desespero e a angústia nos faz faltar o chão e o ar, porque aí, decide o desespero o contrário da lucidez. E anda-se assim tempos sem fim.
E isto faz-me reformular: o que mais nos mostra o que realmente queremos? O que decidimos lucidamente, ou o que o desespero, no seu turbilhão, nos mostra? Se a lucidez assenta na razão e na calma de conseguir pesar e pensar, o desespero alimenta-se e encarna o medo extremo. O que é mais verdadeiro, maior? Não sei, não sei mesmo, porque o medo, o medo extremo do desespero, como todos os medos, serve para nos proteger; para ser tão intenso é porque protege alicerces fundamentais. Mas o medo, se nos protege do mal também nos protege de todo o possível bem que não chegamos a permitir possível. A lucidez raciocina demais e sente de menos. Algures no meio, onde se encontre uma lucidez sensível estará o melhor para nós.
Eu ainda estou no pós-desespero que queima. ]
Eu ainda estou no pós-desespero que queima. ]
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