Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 setembro 2014



"Fala-me tu do Amor e dessa coisa esquisita que é o tempo com quatro dedos de distância entre o ardor das línguas e a asfixia dos corpos.

Fala-me tu do Amor e desse desejo que arrasta a proximidade que anula todos os intervalos em pequenas existências que de tão insignificantes desaparecem numa doçura e amargura.

Conta-me do constante faz e refaz, de ressuscitar e morrer, de adormecer e sonhar, do conforto da luz dos dias na realidade que nos mata. Porque do Amor também se morre e também se vive, como alimentação programada às calorias necessárias para respondermos."

Al Berto

[já não tenho as calorias necessárias ao amor, ao faz e refaz, ao morrer e renascer, as que tornam a amargura em doçura e os intervalos em instantes que se perdem no tempo no momento preciso em que tudo se refaz como se nunca desfeito tivesse sido. Já não tenho calor suficiente para aquecer o amor que me restou, ou para arrefecer o que ficou por dar. Já não sei contar a distância em dedos, nem estar a braços com a recordação de abraços que nunca se desfizeram, percebendo que nunca se fizeram como se recorda. e já não sei o sabor dos corpos em asfixia de desejo, ou o ardor das palavras não ditas que guardei debaixo da língua, donde nunca as libertaste, onde nunca chegaste.] 

Boa Noite

2 comentários:

Filipa disse...

Eva o amor acontece, aparece sem se estar à espera e às vezes sem dar jeito nenhum, sim pode não se querer que aconteça, não dar jeito porque sabemos que nos vai meter em trabalhos, tirar-nos a paz, ou mais simplesmente, porque estamos sem disponibilidade para o que ele exige, sim porque o amor é exigente e também desgasta com a sua montanha russa de emoções (ou então sou eu que sou maluca). A mim aconteceu-me sem o procurar e mesmo não querendo nada com ele, porque estava muito bem sem ele e resisti muito (mesmo a um amor de olhos verdes e digno de calendário para angariação de fundos de uma qualquer causa humanitária ;))mas o amor não se compadece com as nossas vontades e quando chega abalroa-nos e tanto se lhe dá que queiramos ou não, aparece quando menos se espera Eva e mesmo quando não se quer que apareça, veja lá. E se o meu amor não for para sempre, sei que vai ser eterno,(sei que a Eva percebeu isto que parece contraditório, mas que só parece :))sei que sem querer descobri que ele de facto existe, nunca mais o vi num filme ou o li num livro a achar que aquilo só acontecia ali por ser ficção, sei que haverá com alguém um vínculo eterno com alguém que veio oferecer-me emoções de um nível superior e por isso sinto-me uma privilegiada e sabe, o que eu sinto sempre que a leio, é que a Eva sabe perfeitamente o que é o amor, que já o sentiu, que sabe do que fala, sabe o que é o amor muito mais do que tanta gente com relações de vida inteira e para mim, mesmo que a Eva agora esteja triste e se lamente, desculpe, mas eu vou sempre inclui-la comigo no lote dos privilegiados. Desculpe-me o testamento, um beijinho e a continuação de um bom domingo.:)

Eva disse...

Que maravilha lê-la Filipa, sim percebo perfeitamente o que diz, e sim talvez tenha sido ou seja uma priveligiada, mas sinto-me uma priveligiada que ganhou o Euromilhões mas perdeu o talão. Custa tanto perder quando se acha que se encontrou tudo. Porque as melhores coisas da vida encontram-se, não se procuram, e por isso nos surpreendem. Passamos a ver tudo de forma diferente sim, livros, filmes, a vida, as relações passadas e infelizmente as futuras. E tudo isto exige de nós mais do que as vezes temos para dar, porque se sente que nós tiraram tudo, ou que perdemos tudo, ou que afinal nunca tivemos nada. Só é verdadeiramente nosso o que não perdemos. Bom domingo, Filipa. Beijinhos