Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

11 setembro 2014

[na verdade, as pontes não são para unir as margens e o tempo viu-me partir num dia de sol, pela berma fora, descalço, sem procurar mais espaço neste lugar. parti, destinado à ideia de estar só, metamorfoseei-me da invenção do amor. respirei fundo até ao fundo de mim e cuspi fogo. escrevi uma curta crónica sobre o meu corpo e apaguei-a depois. talvez por medo, talvez por estar em branco como as insónias que me dizem o que não quero ler. torna-se tudo tão nítido de noite. as sombras, o vento, o choro. não quero que a memória me traia, mas penso que me demorei nos gestos e agora já não sou daqui. sou um outro animal desconhecido e conto o agora através dos dedos dos pés, à espera que a luz se apague de vez. não quero reconhecer a escravidão dos dias, já não trato o tempo por tu. era preciso uma ilha. trinta de junho. era preciso não saber nadar. respirei fundo e cuspi uma onda de mar. o silêncio está a meio da vida e pouco resta do meu nome. deixei a porta aberta. no fim do azul a chuva cairá.]

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