Aqui sentada no degrau da varanda vejo a lua à minha frente, já baixa, agora a precisamente dois dedos acima da linha dos telhados. O vento sopra e as árvores dançam nas suas folhas. Não gosto de vento, nunca gostei, dá-me medo. Faltam-me asas para navegar o vento e, ainda que tantas vezes possa não parecer, gosto de ter os pés no chão, gosto é de escolher esse chão, esse que piso, que leva onde eu quiser ir, se souber lá chegar. Pisar com convicção o caminho, pisar com o calcanhar na vontade de chegar, mas de gostar do caminho. Gostar de o fazer, de saber que tantas vezes só teremos o caminhar o caminho e que talvez nunca cheguemos onde sonhamos, mas pelo menos vamos gostando de caminhar, vemos a lua e medimos a distância que tem aos telhados deste meu horizonte com dois dedos, dois dedos onde não cabe a minha mão, que me cabe no bolso. Até parece que a lua me podia caber no bolso para levar no caminho... Mas o horizonte, o horizonte cabe-me no olhar, às vezes não sei é se o olhar cabe todo no horizonte. E o vento uiva por entre as folhas e eu tenho medo, não tenho as asas que tem o meu olhar. Se calhar devia ter medo do meu olhar. Não tenho.
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