Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

29 maio 2015

Estava aqui a fumar o último cigarro da noite a olhar para a rua que desceste vezes sem conta, a pensar em todas as vezes que aqui sentada pensar nisso me doía, me apertava a existência, o ver-te descer a rua e nunca teres olhado para trás. Sempre que me deixavas não olhavas, sequer, para trás, nunca olhaste. E eu sempre aqui estive para te ver descer esta rua aqui à minha frente. De todas as vezes que fechava a porta atrás de ti, eu ficava cá para te voltar a ver descer a rua. Penso nisto agora, aqui, e já não me dói, não por que não goste de ti, mas porque não te quero mais ver descer a rua depois de fechar a porta. Não quero, e já não dói porque ver-te anos a fio a deixares-me doía muito. Agora não tenho de ir janela para ter a certeza que não olhas para trás, que nunca olhaste. Estou eu embrulhada na manta destes pensamentos e todas as luzes da rua se apagam, e eu, automaticamente, sorrio, porque as luzes apagaram-se para, de repente, a lua se acender mais. Iluminou tudo, a luz da lua na mais profunda escuridão é muito mais bonita e luminosa. Já não me dói não te ver descer a rua, porque não fechei a porta atrás de ti comigo dentro. Nunca olhaste para trás.

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