Estou aqui sentada do lado de dentro da janela, a olhar para o lado de fora a tentar ver o que trago dentro. O último cigarro do dia, o silêncio que fala alto, a luz que apagámos para ver melhor a luz que se esconde. Abro a janela com vontade de frio, de sentir a pele reagir à temperatura, a qualquer coisa, qualquer coisa que a acorde, ou que adormeça a dormência. Tenho de me mudar o avesso, pô-lo direito, ou torto, ou dá-lo à brisa para que mo leve, para que me deixe limpa como cada manhã que ainda não sinto amanhecer. Amanhã queria acordar outra, outra de mim, que me lembro ser, que serei ainda, depois de virar o avesso do avesso. Queria que amanhã o dia me amanhecesse; anoiteço-me há tempo demais, mas falto-me ainda, talvez, de noite cerrada.
Quero (voltar) a mastigar o sol com a pele e deixá-lo mordiscar-me a alma a rir.
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