Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

04 julho 2015

... Sim, como o ar quente, as almas que guardam calor levantam-se sempre. Há uma qualquer força, algo que, mais tarde ou mais cedo, as impele a isso, e renascem das cinzas que a lucidez sopra, na verdade que não se nega, não se escamoteia e não se alinda. Talvez o amor ao que é verdadeiro as leve a levantarem-se sempre. Por dura que seja a verdade, prezam-na demais para se deitarem, acomodados, na mentira fofa. É preferível enfrentá-la e rumar ao desconhecido navegando incertezas, do que ceder à fraqueza cômoda e sem espinha da mentira certa, do fechar dos olhos na hipocrisia de se fingirem abertos e despertos, num teatro encenado onde apenas resta um silêncio vazio, uma solidão desoladoramente acompanhada, quando cai o pano. Depois de se terem aberto os olhos para certa vida, não se consegue mais fechá-los ao que se viveu, ainda que se guarde tudo embrulhado no maior silêncio fechado por dentro da pele, o olhar que se verte para o mundo nunca mais é o mesmo: o mundo nunca mais é o mesmo. Nós também não.
As almas grandes - acredito -, não negando o que viveram, o que sentiram, o que se deram, o quanto amaram e sofreram, são fortes o suficiente para depois de sucumbir à vivência, depois da queda, se levantarem, e ainda que doridas e cambaleantes, seguir para a vida com vida dentro. Essa vida, essa essência quente e verdadeira, que as deixa cair é a força que as levanta.


[talvez quem me disse ser de alma grande tivesse alguma razão, espero que sim]

Bom dia

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