Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

06 julho 2015


"É inevitável a separação pela viagem. Vamos rompendo e recomeçando aflitos regressos. Começamos, cada vez mais cedo, os espaços interpostos por resoluções definitivas. 
Dura-nos a abstinência um impaciente sossego contrariado. Retornas-me e dou tréguas à prudência. Suspendo a premeditação."


Há palavras que vemos escritas que reconhecemos trazer gravadas por dentro, lê-las é reconhecer uma parte de nós que não líamos assim, não as saberíamos dizer assim, mas que é exactamente assim que nos estão gravadas na memória dos dias, das noites, à sombra dos anos que passaram. Lemos e sentimos o que na altura sentimos a cada "espaço interposto por resoluções definitivas", sempre definitivas, sempre a dar luz ao "sossego contrariado", sempre o retorno a tudo e a suspensão de tudo o que é definitivo. Sempre os aflitos e urgentes regressos esmagados nos abraços que se fundem e se tornam casa, na pressa da vontade de nos sentirmos no outro, encostados, engolidos, tão colados que a pele se confunde e baralha, sentindo-se no lugar certo até à resolução definitiva seguinte - a separação, sempre. E  sempre que o retorno me batia à porta, eu abria. Sempre entendi que vinham por quererem, por gostarem. À minha porta nunca houve obrigações, dependências, manipulações, insistências, se me batiam à porta era porque me queriam, porque gostavam, me gostavam, sempre e de cada vez. Nunca fui bater à porta de ninguém, nunca pedi que ma abrissem, nunca fui atrás de nada, mas deixei sempre que viessem atrás, e sempre abri a porta que nunca cheguei a fechar, sempre dei tréguas à prudência que na verdade nunca tive, e nunca usei de premeditação. Devo ter sido a única.

2 comentários:

Unknown disse...

Querida Eva,
Fui sempre atrás do que queria. Ainda corro. Sou um imprudente.
Obrigado.
Um beijo,
Outro Ente.

Eva disse...

Querido Outro Ente,
Obrigado eu, por dizer tão perfeitamente o que eu nem imperfeitamente conseguiria expressar, mas sinto.
Eu nem sempre vou atrás do que quero, acho que só vale a pena se me quiserem também, ou eu só quero assim, se tiver essa certeza, nao tendo, se me quiserem encontram-me onde me deixaram ou a meio caminho, algures onde as vontades se encontrem, as duas, só assim me faz sentido.
Um beijo.