"É inevitável a separação pela viagem. Vamos rompendo e recomeçando aflitos regressos. Começamos, cada vez mais cedo, os espaços interpostos por resoluções definitivas.
Dura-nos a abstinência um impaciente sossego contrariado. Retornas-me e dou tréguas à prudência. Suspendo a premeditação."
Há palavras que vemos escritas que reconhecemos trazer gravadas por dentro, lê-las é reconhecer uma parte de nós que não líamos assim, não as saberíamos dizer assim, mas que é exactamente assim que nos estão gravadas na memória dos dias, das noites, à sombra dos anos que passaram. Lemos e sentimos o que na altura sentimos a cada "espaço interposto por resoluções definitivas", sempre definitivas, sempre a dar luz ao "sossego contrariado", sempre o retorno a tudo e a suspensão de tudo o que é definitivo. Sempre os aflitos e urgentes regressos esmagados nos abraços que se fundem e se tornam casa, na pressa da vontade de nos sentirmos no outro, encostados, engolidos, tão colados que a pele se confunde e baralha, sentindo-se no lugar certo até à resolução definitiva seguinte - a separação, sempre. E sempre que o retorno me batia à porta, eu abria. Sempre entendi que vinham por quererem, por gostarem. À minha porta nunca houve obrigações, dependências, manipulações, insistências, se me batiam à porta era porque me queriam, porque gostavam, me gostavam, sempre e de cada vez. Nunca fui bater à porta de ninguém, nunca pedi que ma abrissem, nunca fui atrás de nada, mas deixei sempre que viessem atrás, e sempre abri a porta que nunca cheguei a fechar, sempre dei tréguas à prudência que na verdade nunca tive, e nunca usei de premeditação. Devo ter sido a única.
2 comentários:
Querida Eva,
Fui sempre atrás do que queria. Ainda corro. Sou um imprudente.
Obrigado.
Um beijo,
Outro Ente.
Querido Outro Ente,
Obrigado eu, por dizer tão perfeitamente o que eu nem imperfeitamente conseguiria expressar, mas sinto.
Eu nem sempre vou atrás do que quero, acho que só vale a pena se me quiserem também, ou eu só quero assim, se tiver essa certeza, nao tendo, se me quiserem encontram-me onde me deixaram ou a meio caminho, algures onde as vontades se encontrem, as duas, só assim me faz sentido.
Um beijo.
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