[tenho saudades de mim, saudades de me sentir eu inteira, inteira de falhas sem medo de as mostrar. Saudades de poder ser eu e de olhar o horizonte com esperança na ansiedade que o medo faz apertar mas que não asfixia. Saudades de acreditar nas pessoas, na vida, num qualquer equilíbrio justo do viver. Saudades de querer acordar e não me importar de não dormir. Saudades das gargalhadas destravadas e desavisadas. Saudades de não ter tantas saudades como se o passado me guardasse e o presente fosse um repetir-se mecânico inabalável e meramente indicativo: agora, hoje; amanhã será também agora, hoje, tal como hoje, tal como amanhã, tal como sempre, porque o passado, algures, ficou com os dias: com aquele dia, e o outro, e o tal, e o dia disto, o dia daquilo, o dia em que o nada foi tudo, o dia em que tudo deu em nada... dias com luz dentro mesmo à noite. Guardou-os numa gaveta fechada com a chave de saudades. Só assim se abre, mas nunca de lá saem. Talvez seja melhor que uma gaveta vazia, ou talvez não.]
2 comentários:
Querida Eva,
É incrível o quanto me identifico com as tuas palavras, estas e tantas outras que aqui nos deixas.
Tens o dom da escrita, exprimes na perfeição o que é o "sentir" e o "pensar".
Obrigada por partilhares.
C
Olá, C,
obrigada.
Escrevo para me libertar desse sentir é desse pensar, alguém gostar de me ler é nitidamente um bónus.
:)
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