Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 outubro 2010

Gostava de acreditar quando diz que precisa de mim, para dormir, para se sentir em paz, para conversar, para dar um aolá, mas não consigo, não acho que precise de mim para nada. Mas percebo algumas coisas, a necessidade quando satisfeita cria uma habituação cómoda, trocam-se necessidades e a vida vai passando sem necessidade premente de nada. Este tipo de troca deve ser prática, e cria uma dependência funcional donde não há vantagem em desintoxicar, porque tudo está bem. As pessoas precisam-se mutuamente para as coisas mais prosaicas, e então dá jeito ter ali à mão quem está ao pé. E assim podem-se levar vidas desligadas mas dependentes, porque é chato deixar de ter à mão quem nos dá jeito, quem nos dá um jeito às necessidades. De facto eu prezo a minha liberdade e a minha independência e o não precisar de ninguém para fazer o que quero, é que eu preciso dos outros para ser quem sou, para viver bem, para partilhar, mas não para trocar, não, eu dou assim tu dás assado, tu fazes-me isto porque eu te fiz aquilo.
Por isso as mulheres aparentemente fortes, independentes, com necessidade sim da sua liberdade e do seu espaço, e que não precisam de homem para fazer o que lhes apetece são encaradas com desconfiança, porque a ligação com base na necessidade, numa certa subjugação, não existe, ou aparenta não existir, o que cria uma imensa insegurança. Hoje em dia as mulheres já não são dependentes do homem, nem financeiramente nem em qualquer outro aspecto (nem mesmo para mudar lampâdas, que aquilo não tem instruções mas é bastante intuitivo), e a única razão porque deveriam estar juntos era não porque são dependentes um do outro, mas porque querem e gostam de estar juntos. Têm prazer nisso, porque estão muito melhor do que com qualquer outra pessoa, ou até mesmo sozinhos, mas em que não servem apenas para preencher a solidão.
Ele não precisa de mim, e eu não preciso dele para adormecer, não preciso dele para comer, não preciso dele para sair, mas preciso dele, muito, para fazer tudo isto muito melhor, para me sentir muito melhor, mais completa, preciso dele para fazer a vida valer a pena, porque essa no fim não se troca.

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