" O que a exasperava, era que Carlos não parecia ter a mínima suspeita do seu suplício. A convicção em que ele estava de a fazer feliz parecia-lhe um insulto imbecil, e a segurança que afectava, uma ingratidão.
(...)
Desejaria que Carlos lhe batesse, para poder detestá-lo com justiça, vingar-se dele. Por vezes surpreendia-se com as conjecturas atrozes que lhe vinham ao cérebro; e era preciso continuar a sorrir, ouvir-se a si própria dizer que era feliz, fingir que o era, deixar que os outros acreditassem?
entretanto, repugnava-lhe essa hipocrisia. Assaltavam-na desejos de fugir com Léon para qualquer sitio, muito longe, onde tentaria um novo destino; mas logo na sua alma se cavava novo abismo, cheio de escuridão.
-Afinal, ele já não me ama - pensava ela -; que fazer? Que socorro esperar, que consolação, que alívio?"
Gustave Flaubert, in Madame Bovary
[... e para apaziguar a alma, acalentar o coração, aliviar a angústia, pergunta-se se se perdeu a pessoa??... e depois? ]
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