Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

08 março 2014


"Teriam só aquilo para dizer? Nos olhos de ambos, todavia, desenhava-se um dialogo mais serio; e enquanto se esforçavam por encontrar frases banais, sentiam a mesma languidez invadi-los aos dois; era como um murmúrio da alma, profundo, ininterrupto, que dominava o das vozes. Tomados de espanto por aquela nova sensação de suavidade, não pensavam em comunica-la nem em descobrir-lhe o motivo. As felicidades futuras, como as margens dos rios tropicais, projectam na imensidade que as precede a sua indolência natural, espécie de brisa perfumada, e nessa embriaguez adormecemos, sem nos inquietarmos com o horizonte que ainda se não vê."
(...)
" Quanto a Ema, não perguntava a si própria se o amava. O amor, pensava ela, deveria chegar de repente, no meio de esplendor e fulgurações - tempestade celeste que se abate sobre a vida, a subverte, extirpando as vontades como folhas e arrastando para o abismo os corações. Ema ignorava que, nos terraços das casas, a chuva forma lagos quando as goteiras estão obstruídas; e assim se convenceu de estar em segurança, quando, subitamente, descobriu uma fenda na parede."

Gustave Flaubert, in Madame Bovary

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