"As mulheres têm a mania de dizer, num estranho tom acusatório, que os homens não conseguem manter um compromisso de Amor, que abandonam uma mulher por outra com uma facilidade enorme porque não sabem Amar. Nada disso é verdade. A verdade é que o Amor não pode ser um compromisso.
Nenhum homem aceita um Amor que não seja o maior de todos, o que vai sendo cada vez mais difícil de conseguir com a idade. Depois de um Amor grande, nenhum consegue interessar-se por um Amor médio. Nem é má vontade, é apenas uma impossibilidade.
As relações curtas são legítimas e necessárias, mas não são Amor. São remendos à solidão.
O problema de muitos homens é que as mulheres aceitam remendos como se fossem Amor. Por um lado porque não gostam da definição de remendo, por outro por serem mais inteligentes. É que assim existe uma grande probabilidade de Amarem menos do que são Amadas. Numa relação desequilibrada, é sempre fodido Amar mais do que se é Amado.
Um homem pensa sempre que se o seu Amor terminar não conseguirá ter outro, pelo menos tão cedo. É que os Amores grandes não andam por aí pela rua à mão de semear. Já os remendos, felizmente, sim. Quando não se Ama ninguém, os remendos são uma questão de sobrevivência.
Eu vivo um Amor grande nos tempos que correm, o maior de todos. Ando a aproveitar para viver o mais possível. A sobrevivência é só para quem sabe."
E eu não sei: não sei sobreviver, dói-me muito essa vivência da sobrevivência.
E eu gostava que este texto fosse todo mentira, e que depois de um Amor grande um Amor médio não fosse uma impossibilidade, mesmo que esse Amor médio fosse só do meu lado, e fosse mais amada do que amasse, como diz o Bagaço que as mulheres preferem. Eu não, eu acho que a felicidade está em Amar e poder entregar esse Amor a quem amamos, ser mais amadas do que Amar é aceitar não ficar com a melhor parte. Com a parte que nos dá tudo. Isto, mesmo sabendo que neste momento o que preciso é de ser amada, consertada, mimada.
Preciso, mas precisar não é Amar. Precisar é sobreviver, e eu não quero - a sobrevivência dói-me.
Amar é amar o outro, consertá-lo, mimá-lo e com isso ficarmos consertados, mimados e sentirmo-nos amados pela vida.
Não quero remendos, nem ser o remendo de ninguém.
A sobrevivência não é para quem sabe, é, talvez, para quem não sabe (querer?) mais.
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