(...) necessito com a máxima urgência que me abraces com uma violência razoável mas contundente e deixes em branco o conta quilômetros do meu cérebro. Ou que o partas. Tenho prazer em comunicar-te que és muito bonito, Faulques. E estou nesse ponto exacto em que uma francesa passaria a tratar-te por tu, uma suíça tentaria averiguar quantos cartões de crédito trazes na carteira e uma norte americana perguntaria se tens preservativo. De modo que- olhou para o relógio - vamos para o hotel, se não vês inconveniente.
(...) levantou-se para se aproximar da janela e, olhando para a fachada desguarnecida e escura de San Frediano in Cestello pronunciou as únicas dez palavras seguidas que Faulques ouviu naquela noite: já não há mulheres como a que eu queria ser."
Perez Reverte, in O Pintor de Batalhas
Sinto o mesmo, não há mulheres como a que eu queria ser, a não ser em livros ou filmes, fruto da imaginação de alguém, e também da minha. Um pouco como esta que aqui se lê - foi o que pensei quando li a frase que associa o seu estado de espírito a francesas, suíças e americanas... fez-me sorrir pela inteligência malandra, e pela maneira como directamente se diz indirectamente que se quer alguém com vontade, muita vontade sem vergonha de a ter. Li isto e pensei que gostava de ser um pouco esta mulher (ainda antes de ler a única frase completa que numa noite de amor ela proferiu), com presença de espírito, uma pitada de humor inteligente bem encaixada, sem falsos pruridos, vergonhas hipócritas ou acanhamentos toscos, sem filtros e sem medo. Com a dose certa de segurança, independência e doçura ao mesmo tempo. Doçura, ternura e meiguice, sem ter medo de ser, ou parecer, fraqueza.
Há alturas em que chego a pensar que, por dentro, não estou muito longe, mas falta-me um contraponto para me fazer tudo o que posso ser, para fazê-lo respirar e sentir-se. Para ser, afinal. E então percebo que estou longe. A mulher que queria ser não precisa de contraponto para saber que é - o que é-, sabe e ponto final. Falta-me também isso.
Há alturas em que chego a pensar que, por dentro, não estou muito longe, mas falta-me um contraponto para me fazer tudo o que posso ser, para fazê-lo respirar e sentir-se. Para ser, afinal. E então percebo que estou longe. A mulher que queria ser não precisa de contraponto para saber que é - o que é-, sabe e ponto final. Falta-me também isso.
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