Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

31 maio 2014


Será que se pode apanhar um comboio para outra vida? Será que os comboios que se perdem se podem apanhar depois noutra estação mais à frente? Será que nos levam a outro lado, ou só tornam toda a viagem diferente? Mas a vida é a viagem, não o destino. A vida são os comboios que se apanham e os que se perdem, os que se vêem passar, enquanto parados na estação, pensamos esperar pelo nosso, por aquele que nos leva onde queremos com a viagem que esperamos. Lembro-me daquela frase do Kundera na sua Insustentável leveza do ser, que dizia mais ou menos isto: "cada momento tem o peso da eternidade". Suponho que é assim cada momento que passa, cada momento que se vive, fica carimbado para a eternidade, não se repete, não se muda, o que daí resulta são consequências, também elas momentos eternos. Ficam para sempre, ainda que mais à frente apanhemos um comboio de regresso ao que pensamos nosso início. A viagem já a temos, já é eternamente parte do nosso ser. Nunca, verdadeiramente, se volta ao início. Nem a mesma viagem se repete, ainda que o percurso seja o mesmo, viveremos a viagem sempre de maneira diferente, porque já temos mais viagens dentro, mesmo que nos levem ao mesmo lugar. E estamos sempre a tempo de a cada momento fazermos da nossa eternidade o que queremos, desde que dependa de nós, de uma escolha nossa, para que ela mais à frente não nos pese, mas nos pareça curta. Depois há momentos em que só queremos fugir da eternidade que certos momentos - que outros escolhem - nos deixam, e então fugimos. Alguns de comboio. A eternidade apanha-nos mais à frente, ou até na viagem, como se vê. A eternidade nunca perde o comboio, chega sempre a cada momento.

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