"-Você tem o ar de um trapista. Exagera o princípio da gravidade que em Londres lhe incuti. O ar triste não pode ser de bom tom; é um ar aborrecido que se deve ter. Se está triste é porque qualquer coisa lhe falta, qualquer coisa que não lhe saiu bem. É mostrar-se inferior. Se, ao contrário, estiver aborrecido, é porque aquilo que em vão tentou agradar-lhe é que é inferior. Compreenda portanto, meu caro, como o engano é grave."
Stendhal, in Vermelho e negro.
[ de facto, grande engano e melhor observação, estamos sempre a aprender. Eu que ando tantas vezes triste, entendo agora que não se deve estar triste, ou melhor, parecer triste, porque revela inferioridade. Que é como quem diz revela que estamos na mó de baixo. E eu que sempre achei que se estivesse triste estava e pronto, embora nem a toda a gente se goste de mostrar - e eu não serei excepção -, também sempre achei que andar sempre a disfarçar é dar importância a mais a quem possa pensar em tirar conclusões sobre mim. Normalmente acabo por achar isso sim uma inferioridade, o dar importância a mais, e muitas vezes nem tento disfarçar, para quê? Estou-me a marimbar para o que pensem quando me olham para o trombil... Se estou na mó de baixo estou, não sou desgraçada por isso, é um estado, é passageiro, saber isso é saber-se não inferior. Disfarçar sempre é não se saber, e ter medo que seja mesmo inferioridade. Costumo dizer que a maior força é admitir as fraquezas, escondê-las é só mais uma das fraquezas.
Mas é uma reflexão e uma observação muito boa, e por isso aqui fica no meu registo.]
2 comentários:
É uma reflexão sábia na arte do parecer bem e sim, também acho que disfarçar os nossos estados de alma em prol do que os outros vão pensar é estar a dar-lhes demasiada importância.
É, não é?
Também acho, e às vezes realmente damos importância a quem não a tem, acaba por ser um desperdício que nem sempre sabemos evitar. Ou eu, às vezes não o sei evitar...
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