"De um momento para o outro, agigantando-se no meio da neblina e tocado aqui e ali por um raio de sol, surgiu um aglomerado de telhados verdes e amarelos. Pareciam enormes e era impossivel divisar-lhes um padrão; a ordem, se é que ordem havia, escapava aos sentidos; eram irregulares e extravagantes, mas de inimaginável riqueza. Não se tratava de nenhuma fortaleza nem de um templo, mas sim de um palácio mágico de algum imperador dos deuses onde nenhum homem podia entrar. Era demasiadp grácil, fantástico e imaterial para ser u trabalho executado por mãos humanas; era uma construção retirada de um sonho. (...) A Beleza estava ali e ela guardou-a como o crente guarda na boca a hóstia que é Deus.
(...)
A luz intensa do meio dia roubara todo o mistério ao palácio mágico, que agora não passava de um templo na muralha da cidade, aparatoso, mas decadente. No entanto, e porque o tinha visto uma vez em tal extase, nunca mais poderia ser para ela apenas trivial; e muitas vezes, de madrugada ou ao crepusculo ou de novo à noite, sentia-se capaz de reassimilar alguma dessa beleza."
Somerset Maugham, in O Véu Pintado
[Realmente se calhar há coisas que uma vez vistas e entendidas com tal beleza nunca mais podem ser olhadas completamente desprovidas desse encanto que nos tocou. Por muito, e mais repetidas vezes, que depois vejamos as mesmas coisas de outra maneira, como o que são de facto, e não como parte de um qualquer sonho que nos roubou de nós, que nos extasiou e prendeu, há sempre algo em nós que faz reluzir a antiga luz que brilhou em nós ou que nós fizemos brilhar. Há sempre alguma coisa extraordinária que fica do que nós apreendemos como a Beleza. Sejam palácios mágicos ou pessoas que nos fizeram sentir a magia da vida.]
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