Isolo-me e, contrariamente, anseio por companhia, mas companhia ideal, livre de imperfeições e desacertos.
Mantenho-me fiel - fiel a quê ou a quem? À mulher? À minha cobardia? - enquanto me arrasto pelos deboches sem limite nem lei que só a imaginação pode conceber.
Dou-me à veleidade de sonhar vida nova. De, como já disse, querer refazer o meu mundo, abrir outros horizontes, enquanto de facto me sinto morrer aos poucos. Não tanto do corpo, mas da alma, com a impressão de que esta vai perdendo o que eu julguei impossível de perder e se aproxima de um temeroso vazio.
(...)
Mantenho os olhos abertos e escuto-o, mas às imagens que ele evoca sobrepõem-se em mim outras, numa fantasia em que se misturam a inveja, ilusões, desejos recalcados. Como é que um pobre-diabo pode ter vivido um amor assim? Porquê ele? Que força manda que o destino duns seja mesquinho e o doutros uma sorte grande?"
J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa
[... Sim porquê? E por que é que quem vê de fora normalmente vê tudo ao contrário? O pobre-diabo a ter inveja do senhor, que afinal inveja a sorte grande que o outro viveu... E este trecho da sorte grande lembra-me também outras coisas, e penso o que sentirão se algum dia falarem com um pobre-diabo que tenha tido a coragem de reclamar o prémio... Que será que sentirão?
E agora talvez seja bom ir jantar...]
2 comentários:
Muito curiosa para ler J. Rentes de Carvalho
É muito bom, a sério, vale a pena. E se o quiseres ler noutro registo, em modo de blog, tens ali na lista ao lado " Tempo Contado".
;)
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