Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

17 outubro 2014

[foto de Andy Lee]

"Há séculos que te esperava para fugirmos. E não sabia
que a fuga era possível, pelas estradas de giestas em
direcção ao mar. Dorme, e consente que o meu coração
escute o teu. Quero arder contigo, nesta eternidade feita
de pontes atravessadas, kms nocturnos e segundos de asfalto."

Al Berto

Não sei o que é isso da espera quando já não se olha a porta, quando a janela já não nos espreita, quando já nos fecharam todas as portas e sumiram a luz das janelas.
Já não sei do tempo que passou, nem se passa. Não o sinto, nada muda. Tempo que é tempo sente-se no que muda.
Não sei o que é isso das estradas e das fugas, porque os caminhos somos nós e nunca sabemos fugir de nós, mesmo que se finja. Não há caminho para fora de nós por muitos atalhos que enveredemos.
Não há pontes que atravessemos sem nos levarmos dentro. Por muitas pontes que se queimem, o que nos queima continua a queimar, o que nos gela continua a gelar-nos.
Por kilometros que se façam, a paisagem que levamos dentro não altera a paisagem de fora, por muito que ela mude e o tempo passe.
A luz que falta, a porta fechada, o ecrã vazio e silêncio mudo de afectos.

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