Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

23 março 2010

E se a atravessarmos e depois a queimarmos? Se a atravessarmos e depois chegarmos è conclusão que se calhar não a devíamos ter atravessado? Na verdade acho que todas as pontes atravessadas deviam, ou são de qualquer forma, sempre queimadas. Não se consegue apagar a vida tentando percorrer o mesmo caminho em sentido inverso. Um passo dado, vivido é uma distância percorrida que em nós jamais é apagada. Podemos até voltar ao mesmo sítio, mas nunca apagando o caminho, sempre aprendendo com ele. Na vida nunca se percorre o mesmo caminho duas vezes, porque se o repetimos já não retiramos dele o que já retirámos, já não olharemos as coisas com os mesmos olhos, já não nos surpreenderemos com a paisagem, com os sons, com os cheiros, como da primeira vez. Atentaremos agora a outras coisas, não melhores, não piores, outras, outras que não vimos da última vez que percorremos esse mesmo trilho, por isso verdadeiramente nunca um caminho se repete, porque cada passo dado é um passo vivido, que passa a ser parte de nós, não pode ser apagado de nós, tal como a amarga palavra dita nunca poderá ser recolhida depois de dita. Poderá ser perdoada, mas não negada.

02 março 2010

É o medo necessário para evitar ficar só, mas acompanhada. A pior companhia que nos podem oferecer é aquela que nos abandona à solidão. Antes o medo. E a esperança, ainda que ténue, ainda que intermitente, ainda que fraca, ainda que desesperante, mas é uma janela aberta para o mundo. Mundo de possibilidades. De nos magoarmos, mas de sentirmos. De adorarmos e sentirmos. De adorarmos e fugirmos à solidão. De adorarmos e sentirmo-nos adoradas, completas, de alguém. De alguém em nós e de nós em alguém... irremediavelmente.

01 março 2010

Há pessoas que dizem adoro-te como dizem gosto de ti, como dizem gosto de morangos, depois há pessoas que dizem que têm saudades sem se lembrar se as tiveram ou não. Há pessoas que não dizem nada e têm, têm muitas saudades caladas, depois há outras que de vez em quando, no meio do ruído surdo das conversas banais sussurram "gostava de estar aí", assim, sem nada o pedir, sem nada o antever. E esses sussurros roubados ao ruído instalam-se no nosso silêncio, na nossa alma como uma música que não se cala nunca, como um canto encantado que toma a nossa existência e torna-se senhor do brilho dos nossos olhos e do sorriso que nos surpreende as feições. São sempre as coisas mais raras que mais nos tocam, porque essas guardamo-las bem no fundo de nós, como que escondendo os nossos pequenos tesouros, protegendo-os para momentos, em que por vontade própria saltam da alma que os guarda... e me assaltam para sempre o espirito.