Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

30 outubro 2013

Não sei porque tanta gente pensa que aguento, que sou forte, que não preciso de ninguém, de nada, que nunca me sinto perdida. Não parecem ver que tantas vezes me falta o chão debaixo dos pés, só porque pareço pisá-lo com tanta convicção. Parece que os outros precisam mais, porque não sabem fazer isto aquilo ou aqueloutro, coisas que se aprendem, coisas mais simples (ou menos), que se têm de aprender a fazer quando não temos quem as faça por nós. Esses são os coitadinhos, têm de ser amparados e ajudados, tudo se desmorona se lhes falta quem lhes faça o que poderiam bem fazer. Eu posso com tudo, pensam. Não posso. Não sei nada tantas vezes, e nas outras tenho tanto medo... mas sei que a algum momento tenho de ir, tenho de dar de caras com esse medo, tenho de o derrubar, ou ele derrubar-me-á. E preciso, preciso tanto, de saber que tenho para onde voltar qualquer que seja o resultado: completamente derrotada e esgotada, ou nem tanto. Preciso de saber, que independentemente de tudo, tenho sempre quem me ampare a alma quando fiz o que tinha de fazer, mesmo que não tenha sido o mais bem feito, mesmo que o resultado não seja o melhor, ou que seja ainda melhor do que eu poderia temer. Preciso que me gostem para além das coisas, dos feitos e dos desfeitos, preciso que me tenham por dentro e que nada entre aí, nada profane esse colo. Que seja um lugar protegido do mundo, onde posso aninhar-me quando o mundo me cansa, me faz cair, ou até se me surpreende alegremente. 
Preciso que me tenham por dentro, sempre e de qualquer maneira. 
Preciso desse dentro para voltar ao que sou, mesmo que sinta que não sou nada, e principalmente, nada do que queria ser. E isso não se aprende a fazer sozinha ou simplesmente, não tem instruções, nem ninguém ensina. Os fortes são aqueles não precisam de se sentir por dentro de ninguém, por estarem tão por dentro e cheios de si mesmos, tão auto-suficientes de si, tanto, que não precisam de sair de si para aprender o que os outros têm de fazer por eles.