(...)
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medo infantil de ter pequenas coragens.
Vinicius de Moraes
[a coragem face a grandes terrores,que aparece sem avisar, invade-nos, toma-nos as atitudes e acordamos depois como se tivessemos hibernado num canto de nós enquanto alguma alma superior tomou conta de nós e das ocorrências. Nunca sabemos como tivemos coragem. E o medo que nos afugenta as pequenas coragens que nos mudam as miudezas da vida, ou que não nos deixam mudar nada, tal o medo das pequenas mudanças que podemos contornar e acomodar como se não mudássemos nada: e quando vamos a ver nada está na mesma, mas nada foi consciente e fruto duma qualquer decisão; é uma verdade que nos vai conquistando como quem invade o quintal do vizinho: pela calada e de mansinho. Estas miudezas de coragem parecem aterrorizar mais do que o terror de viver sem vida nenhuma. O cair uma e outra vez na desilusão. Não ter outro remédio senão levantarmo-nos para mais umas chapadas: é uma questão de tempo, e cada vez que nos levantamos sabemos que voltaremos a cair, e levantamo-nos para continuar a circular o labirinto, sem nunca perceber que o labirinto somos nós.]