Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 dezembro 2011

Olhar para o telefone não adianta, ele não sabe, não toca, não sente, não me lê o olhar ou os sonhos desfeitos. Pela janela vê-se a chuva cair, lamber os vidros e arrastar-se até ao chão, e para quê? não há lá nada.. mas ela cai e arrasta-se e faz-me pensar porque não nasci chuva para cair e arrastar-me, sem pensar que caio, e que não gosto de me arrastar. Acende-se mais um cigarro, pensa-se no que foi, no que ele foi, no que fomos sem nunca ser, sem nunca termos sabido o que fomos, sabendo-o desde o princípio que isto não ia não ser nada, não ia ser uma coisa que cai sem razão, não se ia arrastar sem nos arrastar com ela, mas foi, e não foi nada. E o telefone não toca, não apita, não nada. O que será que do outro lado se pensa? O que será que não se sente? O que será que é? Porquê esperar alguma coisa, se nada há para esperar? A lareira aquece as pernas mas a alma entorpecida não aquece por nada, memórias que vêm sem aviso que nos deixam um sorriso nos lábios e uma lágrima que rola, que nos lambe a pele e que cai... tudo cai e eu não me levanto, já não o sei fazer, já me cansei de o fazer para cair de novo, deixai-me estar no chão que é para lá que tudo cai. Menos as memórias, que não me caem no abismo do esquecimento, na frieza do vazio do que já não existe, mas que eu faço existir porque é lá que estou, no vazio. Toca o telefone, do outro lado uma voz doce que nos tenta arrancar do sítio onde nos perdemos da última vez que existimos, "Como estás??, estou bem, e tu? Não inventes, queres companhia? Não, não quero, estou bem, a sério... acho que vou dormir o tempo está bom para isso..." Desliga-se, e o mundo fecha-se outra vez, deixa-nos de fora, ou só dentro do mundo que criámos sem que o conseguissemos encaixar nesse que se vive, onde se finge que se vive. Telefone mudo, surdo, e a chuva cai lá fora, e dormir não é opção, porque o sono não deixa, porque me acordas os sentidos que já não sinto, porque sinto o que sentia sem querer sentir ou ter sentido, e tudo o resto não tem sentido. Como na mensagem que me mandaste há tanto tempo que já não me devia lembrar, "tenho tantas saudades tuas que não sei onde as encaixar, e tudo fica sem sentido." Teria sido sentido? Sentiste-o? se o sentiste, onde está? onde estás? E o telefone mudo, e tu mudo, e tu surdo, e eu no chão.

11 novembro 2011

Há mulheres bonitas, depois há mulheres que têm raça e são bonitas.

02 novembro 2011

Sem aviso, apareceu-me na cabeça, ou não sei onde, a cena de quando me puxaste com uma mão pela cintura, e me fizeste sentar ao teu colo, quando estava zangada contigo. E foi ali, naquele preciso momento, em que me tocaste e puxaste com a força certa, com a firmeza e vontade exacta, que me rendi, não to deixei perceber, mas tiveste-me logo ali, perdi-me naquele instante, foi como se se apagasse tudo. Só com esforço pus a cabeça a trabalhar e não me colei logo a ti, colei-me às palavras que me magoaram tanto para que não me deixasse logo ir na conversa do teu toque, que sempre me desconcerta e desconcentra. Até agora, não sei quanto tempo depois o sinto e me leva para onde queres, mesmo que não queiras...

29 setembro 2011

Estou tão atafulhada de coisas que quero fazer, que gostava de fazer, vontades atadas com nós cegos, que o próximo que me apanhar até vai fugir de tanto que gostaria de dar e guardo. Como uma represa que um dia se vê liberta vou fazer tudo o que sonho contigo, que não pude, não posso fazer, mas que queria. Queria raptar-te numa sexta à tarde, sozinhos, levar-te para longe do mundo e perto de nós, queria fechar-me num quarto de paredes caiadas de branco e janelas enfeitadas de cores plenas de vida, no meio do nosso mundo, com espreguiçadeiras no terraço a convidar ao mimoe à conversa ao ouvido e o teu calor perto, queria perder-me contigo a contar as estrelas do céu limpo e sem luzes a poluírem a noite, ou a admirar a lua pestanuda que pisca o olho ao céu e nos sorri atrevida, queria sentar-me na varanda e encher-la de gargalhadas partilhadas, beijos roubados, trocados, dados, mas sempre sentidos. Queria leituras partilhadas e sorrisos cúmplices no olhar, queria adormecer em qualquer lado enroscada nos teus braços e aninhada no teu peito, sorrir a dormir e sonhar acordada. Queria parar o carro no meio de nada porque a música que está a tocar, tenho de a dançar contigo, colada a ti, e não pode esperar, como nada deve esperar, porque o tempo foge e não espera por ninguém. Queria passear de mão dada a conversar ou em silêncio, queria partilhar contigo as coisas boas e más, ajudar-te, deixar ajudares-me, deixar que tomes conta de mim, mesmo que tenha de tomar mais conta de ti... O próximo, se existir, espero que goste disto tudo, porque eu gosto e quero, e tu gostas de certeza, mas de certeza que não o queres.

28 setembro 2011

"- Oh menina, agora não me dá muito jeito!..."
[...silêncio]
(a mim também há muita coisa, muitas vezes, que não me dá jeito nenhum, mas eu arranjo maneira de dar um jeito. Mas isso sou eu que sou parva, já sei. Ninguém mo pede, por isso também não o peço a ninguém, nunca pedi, e nunca vou pedir. Atenções mendigadas são obrigações veladas. Não quero ninguém ao pé de mim por obrigação, como não estou com ninguém por obrigação, acho que é demasiado medíocre para a minha consciência desperdiçar o pouco tempo que se vive, e a que nunca podemos fazer contas, com pessoas que não quero. Mas isto sou eu que sou estúpida, já sei)

30 agosto 2011

O que pensei estas semanas? Nada, acho que não pensei nada. Só que o amor não tira férias, se tira vem queimado e nunca foi amor. De resto,, fiquei apenas a dedilhar o silêncio do tempo na sua música cruel.

26 agosto 2011

"Viver só. Estar só até à morte. Ninguém quer conhecer-nos para nos amar. Defendermo-nos sem uma falha de atenção. Fechar a porta com duas voltas. E vir então para a rua. E ser quotidiano e medíocre. E ser amável. "


"Que te ignorem, te suprimam, em que é que isso te pode chatear? Está só, que estás bem. Reinventa aí toda a razão de viver. Que os outros sejam em público na grandeza para que nasceram. Não nasceste para isso. E vai-os olhando como espectros de um outro mundo. Conseguires ausentar-te totalmente e estares presente a ti próprio. É quanto chega. Sê todo em ti na exacta medida em que fores nada para os outros."


Vergílio Ferreira, Conta-corrente I


Incrivel, como se falasse por mim.
Também eu não sei ser em público, só sei ser público. E nunca niguém me conheceu e me amou, ou me conheceu para me amar, ou me amou conhecendo-me. Mas esqueci-me uma vez de fechar a porta com duas voltas antes de ir para a rua. Assaltaram-me, agora estou despojada de mim como era e devolveram-me o que não sabia já ser. Saíram, fugiram e deixaram a porta escancarada, e descubro que não sei viver assim. Descubro que não sei viver. Ainda não sei ser plena, sendo nada para os outros. Os outros, os "meus" outros, são também eu e o que me vejo, como me vejo. Não sei ser sem eles, mas aprenderei. Não tenho mesmo outro remédio. Viver só.

24 agosto 2011

"Eis porque o prazer de uma «fantasia»...Impossível ou difícil para mais gente do que se supõe. Carrément. O peso da «irregularidade» a estragar o prazer. E todavia, uma subtil insinuação de «fraqueza». Ser «forte» explica a assunção do «pecado»? Ser mau é ser bom? A virtude terá raízes pecaminosas - e vice-versa? É-se «moral» pela cobardia de não aguentar o incómodo da «imoralidade»?, de se saber que essa imoraçlidade iria magoar outrem se a conhecesse? Por sobre tudo, no meio de tudo, a horrível sedução. O ter o fruto à mão, com o seu violento apetite, e não o colher. Na infinitesimal fronteira, a incandescência da loucura. Sabe-se como é que se pode enlouquecer. Um pequeníssimo desvio. Um breve toque mais. Recuar para cá - um esforço violento. Curiosamente, a intensidade do prazer prometido, a intensidade da sua possibilidade, arrasta consigo a dificuldade moral de o conseguir. E a loucura está no crescimento simultâneo das duas tensões. Para que o salto se dê, é necessário que uma delas abrande."
               Vergílio Ferreira, Conta-corrente I

A virtude, ou é natural porque assenta no pecado, e este sim é natural (?), ou assenta no constante evitar do pecado, ou seja, não é uma virtude "natural" ou intrinseca, é um evitar de. Nunca tinha pensado nisto antes de começar a ler este livro, que a virtude vive sempre do pecado, duma ou doutra forma. Em sentido figurado, obviamente, porque pecado é uma invenção da Igreja, para suportar e aclamar a virtude suponho.  E vamos todos atrás. Porque para onde me remete isto é: O que é então a virtude? em que assenta? Na vontade de fazer bem "o" bem, ou só no fazê-lo?

23 agosto 2011

Sim realmente sou inquieta, mas não vivo da inquietação, principalmente se se apelidam de inquietação, ou já teria morrido há muito. De qualquer maneira é mais um defeito a acrescentar à já vasta lista que possuo..

21 agosto 2011

"Há uma imagem de nós nos outros e há o que em nós permanece e reconhecemos, quando uma pequena fenda se abre. Valerá a pena mudar? Mesmo que esse outro de nós seja real? A ironia, o riso, é um dado real de mim. Valerá a pena sobrepô-lo ao mais? Não é esse mais o quase tudo?" Vergílio Ferreira, conta-corrente II
"A grandeza de tudo está na grandeza com que se for esse tudo. Não nesse tudo."

"Quando a vida nos habitua a desprendermo-nos dela, a firmarmos o pé em  nada, vive-se obviamente no provisório. E se o que mais amamos falha sempre ou disso nos ameaça, o recurso é, para haver o que amar, amar-se o que como «ideal» nunca falha - a harmonia, a tolerância, a paz. Por mim e por sobre tudo, amo a vida, que é onde acontece o que se há-de amar ou não."

Vergílio Ferreira, Conta-corrente I
E quando o «ideal» falha? Quando começamos a questionar o nosso ideal?? Tudo se torna provisório? Por isso é o nosso mundo, e a nossa sociedade de consumo imediato, e por isso tudo tão provisório?? É o reflexo da falta de ideais que nos guiem?? E que não falhem?? 

Talvez eu me converta ao eterno provisório de facto, porque começa-me a falhar o ideal de mim mesma, e do que valorizo na vida para a conseguir amar. Para conseguir amar.

19 agosto 2011


"Estar-se cheio, tenso, farto, às vezes no limite da loucura. Cintado de moral, da vigilância dos princípios, do "parece mal". E da cobardia, decerto, e do comodismo. E uma vontade oculta de se rebentar com tudo. Ser-se livre, como quem já nada tem a arriscar. O mais difícil, é que tudo seria fácil. Porque, se fosse difícil, era mais fácil de aguentar, (...) Foi possível, porque já nada havia a perder. O cálculo do futuro não entra já no seu cálculo."

"Cansado. O futuro restrito. A vontade de chegarmos à beira e atirarmo-nos. A monotonia dos dias fiscalizados, a sedução do diferente. Digo diferente. Só o pecado é diferente. Ou sobretudo. Será talvez útil regressar ao pecado de vez em quando, para que a virtude seja mais suportável? Mas não é fácil. É preciso coragem. Coragem? Que é isso de coragem? Em todo o caso, não propriamente pelo pecado em si (para subdesenvolvidos morais como eu, ele pesa), mas porque não é fácil equilibrar o prazer dele com as chatices anteposteriores." 

Vergílio Ferreira, Conta-Corrente I
Parece que escreve para mim em tanta coisa, e faz-me parar muitas vezes a pensar, e dar por mim a sorrir por entender tão bem, e por me sentir menos diferente. Há quem goste de ser diferente, eu não, e pelos vistos tenho razão, porque " só o pecado é diferente", e só serve para se prosseguir a pureza das virtudes... apoiada no pecado.

17 agosto 2011

"As gerações futuras deverão desembaraçar-se do tempo. Parece que já o tentam. Vida em superficies lisas, desinfectadas, vida no instantâneo presente."

"Aliás a sua razão não funciona (nenhuma razão) no que é a quase totalidade da vida humana. O que nos importa passa por outro lado. Quando a razão lá chega, já tudo está decidido"

Vergílio Ferreira, Conta-corrente I
Algo me diz que vou gostar muito de ler este senhor, e ainda agora comecei.

14 agosto 2011

"Ah! bem sabia que me amavas. Os teus primeiros olhares, esses olhares cheios de alma, o teu primeiro aperto de mão, disseram-mo, e todavia quando te deixava, ou que via Alberto a teu lado, tornava a cair nas minhas devoradoras dúvidas."

Goethe, Werther

Mesmo findo o livro, não, não sei se ela o amava na verdade, sei que não o queria amar, sei que se queria convencer que não, que a ser amor seria amor fraterno, compaixão, amizade. Ainda assim, concluído o livro e as últimas reacções da bem amada de Werther, não sei se ele era, de facto, amado ou não por ela. Uma dúvida, no entanto, não tenho, não o amava como ele a ela. Disso não há dúvida, ele morreu por isso. Dela diz-se apenas nas últimas linhas, que se temia também pela sua vida desde a morte dele.
"O que é o homem, esse semideus tão gabado? Não lhe faltam as forças precisamente no momento em que lhe são mais necessárias? E quando ele toma voo na ventura, ou que se abisma na tristeza, não será então ainda limitado, e sempre reconduzido ao sentimento de si próprio, ao triste sentimento da sua pequenez quando contava perder-se no infinito?"

Goethe, Werther

12 agosto 2011

" «Ou tens alguma esperança de êxito junto de Carlota ou não tens. Bem! No primeiro caso procura realizar essa esperança e obter a realização dos teus desejos; no segundo, robustece a tua coragem e livra-te de uma desgraçada paixão que acabará por consumir as tuas forças.» Meu amigo, isso é bem dito... é fácil de dizer!
E esse desgraçado, cuja vida se apaga minada por uma lenta e incurável doença, podes tu exigir dele que ponha fim aos seus tormentos com uma punhalada?, e o mal que lhe devora as forças não lhe tirará ao mesmo tempo a força de se libertar dela? "

Goethe, Werther
Não importa a época, o ser humano é igual e intemporal. Eu já pensei isto, e já no século XVIII o pensaram e o escreveram.
A humanidade persiste no sentir, no viver que toca o que de mais fundamental temos, aí somos todos iguais. Quando sentimos somos todos muito iguais, quem assim não for, não sente.
"Que figura de parvo eu tenho na sociedade quando me falam nela! Se tu visses quando me perguntam com gravidade se eu gosto dela! Gostar! Odeio esta palavra até à morte. Que homem será aquele de quem Carlota gostar, ao qual não encha ela todos os sentidos e todo o ser. Gostar! Ultimamente alguém me perguntou se eu gostava de Ossian!..."
          Goethe, Werther

Percebo perfeitamente, mas comigo é simpatizar.

10 agosto 2011

"(...) em um elefante há dois elefantes, um que aprende o que se lhe ensina e outro que persistirá em ignorar tudo, Como sabes tu isso, Descobri que sou tal qual elefante, uma parte de mim aprende, a outra ignora o que a outra parte aprendeu, e tanto mais vai ignorando quanto mais tempo vai vivendo, Não sou capaz de te seguir nesses jogos de palavras, Não sou eu quem joga com as palavras, são elas que jogam comigo "



José Saramago, A viagem do elefante
A mim acontece-me precisamente o mesmo, há uma parte que nunca aprende, e com as duas as palavras brincam. 

[o que é que aprendeste a ignorar que aprendeste?]

08 agosto 2011

Não sei que fazes,
 não sei que fazes ou por onde fazes,
sei que não me vês, não me falas, não me sabes.
Aí com os pés enfiados na água refrescas as ideias, em que eu não estou, nem nas novas, nem nas velhas.
E ontem o teu nome na minha boca, tantas, mas tantas vezes. Depois refresco as ideias e penso, sei, que eu não estou na tua, e não sei porque não te afasto duma vez, não te tiro de dentro duma vez. De alguma maneira, não importa como.

07 agosto 2011

"As vacas têm história, tornou o comandante a perguntar, sorrindo, Esta, sim, foram doze dias e doze noites nuns montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e breves intervalos de descanso, e mais combates e investidas, e uivos, e mugidos, a história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, as arremetidas bruscas, as  cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por um animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim de doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais. "

José Saramago, A viagem do elefante
Moral da história???  hummmm??
Isto fez-me pensar e pensar, e ainda não consegui descortinar uma conclusão lógica, uma qualquer conclusão moral que me agrade, ou pelo menos, que me responda à pergunta...com uma conclusão.

06 agosto 2011

"(...) a quem talvez não vejamos mais, ou talvez sim, porque a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginámos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos."

José Saramago, A viagem do Elefante

[e que palavras vão nesse silêncio? que previsões ou regressos?]

15 julho 2011

Mas não parece que esteja a chover... e o guarda chuva está a mais...

13 julho 2011

Voltei, tinhas desligado a luz e acendido duas velas, sorri com uma luz que se acendeu em mim, e tu perguntaste:
- Gostou?
Acho que não te respondi com palavras, mas percebeste-me, de certeza, na perfeição de estarmos juntos.
As palavras são tão imperfeitas.

12 julho 2011


OK vamos lá animar isto...
 Pode ser um destes para a mesa 5? que isto reuniões a manhã toda não está com nada... Pode ser? Ok obrigadinha.

08 julho 2011


Are you talking to me??

Sim, sim, tu.
Portaste-me mal, fechaste-te outra vez na casota onde eu não caibo, e para onde foges sem eu saber porquê. Ficas sozinho a roer o teu osso e deixas-me do lado de fora de ti.
Não gosto.
Não gosto da tua resposta tonta, nem de agradecimentos daquilo que não tem agradecimento. E também não é uma dádiva, é uma inevitabilidade sem qualquer alternativa aparente. Pelo menos para mim.

07 julho 2011

Acho que já até aqui falei neste assunto, mas depois de ler isto voltei a debruçar-me sobre ele, e continuo a gostar mais de adoro-te do que de amo-te, ainda que ache que os dois não se anulam. Aliás, dependendo da situação um encaixará melhor do que o outro, se quisermos realmente traduzir em palavras o que se sente em cada momento. Porque há uma palavra para cada momento, mesmo que essa palavra seja tantas vezes o silêncio dum olhar que diz tudo o que nenhum adoro-te ou amo-te consegue dizer.
Adorar alguém tem, para mim, algo de selvagem, de irreprimível, de louco, de desenfreado, basicamente implica sempre a pimenta que vem com a paixão, é, como dizia Camões, "Um não querer mais que bem querer" é algo que ainda nos mexe com os fusíveis, que nos faz duvidar das coisas mais certas, que nos surpreende.
O amo-te é a plenitude trazida pela tranquilidade de se amar, e de se saber amado, é forrado dum sentimento consistente, mas mais meigo, mais contínuo e de menos erupções emocionalmente destravadas.
Agora, acho que é possível adorar alguém que amamos, mas parece-me difícil adorar alguém por muito tempo, sem que se tenha também de dizer inevitavelmente amo-te. Mas, para mim, uma relação completa tem de, de vez em quando, ter essa loucura incontida da paixão, de adoração pura do outro, como se às vezes olhássemos para ele como se fosse a primeira vez, como se nunca o tivéssemos visto assim, como que surpreendidos por estar ali, connosco, admirados por podermos adorá-lo enquanto o amamos.
O amo-te sem a adoração, sem a raça do gostar com ganas, parece-me sempre um amor morninho, um (a)marasmo pacifico e tranquilo, confortável, bom, muito bom, mas a quem falta um choque enérgico de vez em quando para nos acordar para a vida, para a paixão pela vida.

05 julho 2011



Some things fall apart
Some things makes you hold
Some things that you find
Are beyond your control

I love you and you're beautiful
You write your own songs
What if the right part of leaving
Turned out to be wrong

If I could kiss you now
Oh, I'd kiss you now again and again
'Til I don't know where I began
And where you end

(...)
Moby (where you end)

Ahh poizé!! Deviam pensar que não servia para nada. Enganaram-se, e olhem que não é para todas, é só para algumas. As mães não querem sempre que os filhos sejam um exemplo? Ora, eu não desiludi a minha (espero é que a minha me desiluda a mim nisto...)!!

26 junho 2011

Quando chegamos à última página dum livro, viramos uma página de vida, vida que não vivemos, mas que fica a fazer parte de nós. Sem frases, sem vírgulas, sem pontos finais, mas segue connosco de alguma forma. Seja bom ou mau o livro, aliás, eu acho que meço a qualidade pelo tempo que demoro a despedir-me dele, fecha-se o livro mas parece que continuamos a flutuar num mundo que não é nosso, que nos obriga a virarmo-nos para dentro e para nós. Este ensinou-me, ou confirmou, que o medo está dentro de nós, nunca vem do exterior. Só o eliminamos quando nos confrontamos connosco, e com o que tememos em nós, não nos outros. Eu descobri que tenho medo de me descobrir. Talvez por isso ande sucessivamente a testar limites que não sei onde ter.

O mais importante, no que diz respeito à vida por estas bandas, é o facto de as pessoas se deixarem absorver pelas coisas.
- Absorver pelas coisas? Que quer isso dizer?
- Acontece o mesmo quando estás na floresta. Tornas-te parte da floresta. Quando estás à chuva, tornas-te parte da chuva. Quando é manhã, tornas-te parte da manhã. Quando estás comigo, tornas-te parte de mim.
Haruki Murakami, Kafka à Beira Mar

16 junho 2011


Desculpa... só mais uma coisinha.. e já agora arranja-me um destes, tá? Com a cabeça a funcionar bem (bem sei que é pedir demais, mas já que se pede...)
Pode ser? Combinado.
(é certo que se cumprires eficientemente com o primeiro pedido o segundo já não terás trabalho...)

08 junho 2011


Fotografia um bocadinho psicadélica mas o significado não me parece nada psicadélico. Beijos que não descolam que nuncam deixam de ser beijos? Beijos permanentes. Só fico na dúvida se se estão a tentar despegar e não conseguem, se se querem despegar, ou não.

Eu gosto desta, apetece-me esta hoje, bem sei que não tenho esta idade, mas às vezes tenho. E gosto, gosto do que representa de carinho e ternura, de partilha de intimidade e brincadeira. Gosto, pronto. Nada a fazer!


[na verdade ainda gosto mais por causa do chapéu dele à Robin...]

Gosto.
São a minha cara, não quero cá rosas nem orquídeas finas nem coisa nenhuma. Margaridas, isso sim, frescas e não demasiado domesticadas ou com a mania, simples e sem finesses. Lindas. Para mim, claro. Além de que tenho falta disso, de margaridas...

06 junho 2011

Não gosto de fins, só de começos e meios, mas não de meios para um fim, não gosto de fins, já disse.
Gosto de princípios e de meios, por princípio.
No meio é que está a virtude, dizem. Eu digo que mantermo-nos lá é que é uma virtude.
Reconstruir os meios com os nossos meios, recomeçar sem acabar ou começar, apenas mudar, transformar.
Plantar sucessivos começos em cima dos meios já acomododados, crescidos. Quando mortos é o fim, foi.
Rumar ao objectivo, nunca ao fim. Não gosto de fins, já disse.
Objectivos são eternamente horizontes, quando pensamos que lá chegámos, erguemos o olhar e o horizonte lá está, ao fundo, à espera de nos fintar de novo.
Caminhar sempre em direcção ao horizonte, usar os meios em eternos princípios, porque o fim é evitar o fim.
O meu princípio és tu, dá-me uma mão, e com a outra afasta o horizonte que ontem vi nos teus olhos.
Fiquemos, por princípio, para sempre, a meio do fim.
Não gosto de fins, já disse.
[...há coisas que se repetem, e talvez agora faça sentido voltar, ainda não sei, sei que a Eva ainda não morreu e eu também não, embora às vezes me pareça convencer disso)

29 janeiro 2011

- Mas o que é que quer de mim?
- Quero fazer-lhe aí uns dez filhos...
[???? devia querer dizer tentar fazer uns dez filhos... digo eu]

28 janeiro 2011

Abri a porta devagar, como sempre abri o coração, menos a ele a quem não senti entrar. Ainda às escuras sinto os seus lábios assentarem perfeitamente na minha testa, e sem sequer me dar conta não consegui evitar o sorriso nos lábios que não beijou. Dois ou três passos depois e solidifica-se o silêncio num abraço terno, sinto-lhe o corpo tremer de frio por dentro e por fora, a alma treme-lhe num olhar triste, e percebo que todos os ruídos da minha cabeça se sumiram, fugiram quando a porta se fechou atrás de nós. Agora só a vontade de o aquecer, de o apaziguar, de o acalmar por dentro e aclarar o olhar. Ficámos assim. Não sei quanto tempo, o suficiente. Corpos juntos, respirações coladas, conversas emudecidas, a paz a entrar devagarinho, o calor a vestir-nos por dentro.
Tudo o resto perde sentido quando sentir é tudo o que se consegue.
Agora, estou às escuras, a porta continua fechada, a cabeça repovoada de ruídos e só sinto a minha alma a tremer, mas não se vê e ninguém sente.

25 janeiro 2011

Dizes que nada dura a vida inteira, que as coisas mudam, que as pessoas mudam, que tudo muda, e reconheço-o, tudo muda. Mudam as estações do ano que se repetem, muda o dia para a noite, muda a vida que tantas vezes nos emudece, mas que sempre continua a cada dia, depois de cada noite.
Nem sempre mudar é deitar fora o que mudámos, é apenas aconchegá-lo de maneira diferente. Esta maçã que me deste com o nome, emudeceu-me pela tentação de viver, e eu mudei, mas sou eu. Tu destapaste a Eva em mim, pela tentação de ser eu, apenas eu, um eu que não via mas que tu viste. Mudei-me e continuei-me eu, contigo em mim.
As pessoas mudam, os sentimentos alteram-se, transformam-se, desenvolvem-se noutros, crescem, mas nunca esquecem a infância que os viu nascer, ficam sempre em nós se houver vontade de os manter, se se continuar a achar que vale a pena, doutra maneira deixamo-los morrer.
A paixão deixa de morder da mesma maneira, deixa de queimar, mas aquece e muito, os dias, as noites, leva vazios e traz sons, troca memórias por sorrisos, e vontade de estar em vontade de continuar. Sempre. Continuar a mudar momentos em sorrisos, paixão que não acaba em cada dia que começa. De maneira diferente.
Há coisas que duram uma vida inteira. Na minha, eu. Tu em mim. As pessoas que gostámos, em nós. Mudas, eu mudo, mas pode-se ir mudando de mãos dadas num só olhar, ou apenas mudar, mas sem nunca conseguir mudar a mudança que nos mudou já, e que dura uma vida inteira.

21 janeiro 2011

E no meio de nada surge-me a ternura que não sinto, mas que recordo poisada no silêncio do que não dizes, quando os teus lábios me falam o que te queria ouvir.
Mas como ouvir a ternura? como se ouve o carinho? como se substituem os beijos pequeninos com que me contornas o rosto, que me enchem a alma e a memória, quando ansiedade de nos termos se cala, e os olhos se me inundam de ti?

18 janeiro 2011

Como é possível encontrar o que queremos e tudo o que não queremos numa mesma moeda?
Duas faces duma mesma moeda que carregamos sem saber que destino lhe dar, à espera que a sorte, o tempo, ou alguém a faça parar numa das faces e assim se manter. Alguém que nos diga o nosso destino desenhado nas faces dessa moeda, que tantas vezes se torna insuportável de carregar, e outras nos faz levitar na leveza de quem é, por momentos, tão feliz.
E como suportar a espera que nos levará ao que nos espera?
Como engolir os dias em que o peso da distância se torna insuportável?
Como guardar inalteradas as horas que nos fazem o coração sorrir na companhia do amor?
Como fazer para poisar apenas a moeda no fundo dum qualquer poço de desejos, e desejar que o que foi nos ajude a trazer o sonho à tona da vida, perdendo o peso que o afoga todos os dias, para toda a vida.

12 janeiro 2011

04 janeiro 2011

Pode ser este ??

??

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em místicos arroubos?
Os monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!...



Florbela Espanca


Há coisas que faço que nunca fiz, há coisas que digo que nunca disse, há coisas que sinto que nunca senti. Não conheço este caminho, sinto-me perdida tantas vezes, e tantas vezes me encanto com o perder-me, como me desencanto com os desencontros do que se diz, se sente, e se faz.
Neste caminho que se vai fazendo debaixo dos meus pés procuro-me as minhas fronteiras de ti, procuro onde eu acabo e nós começamos, desencontro-me de mim e encontro-me em ti, em nós. Sou o que não sabia ser, o que pensava saber, sem saber que nunca se sabe ser afinal.
Eu sou o nós, tu és o nós, somos o mesmo no nós que não existe, mas que somos. E eu não percebo isto, de ser eu e ser tu ao mesmo tempo. De ser tu e não deixar de ser eu.
Não encontro no mapa as fronteiras para sair deste caminho para fora de nós. Para fora de mim.
É o nós que me dá o nó.