Aqui o ar é pesado, dum quente ressequido, saturado, e eu saturada de o respirar. Quase a acabar o turno. Quase. Apetecia-me tratar de mim, um bocadinho que fosse. Ando a sonhar com uma tarde de ficar de papo para o ar a tratarem de mim: cara, mãos, pés, se puderem tratar da alma também agradeço, mas isso duvido... Mas no fim uma massagem. Isso sim era uma tarde. Depois ir para casa, para a lareira com uma garrafa de tinto, boa música e um livro que nos afunde nele, sem deixar levantar cabeça. Precisava disto tudo, à falta de tudo o resto, isto agora servia-me. Está quase a acabar o meu turno, preciso de pelo menos espairecer, fumar um cigarro, dar voltas na cidade, qualquer coisa que pareça assemelhar-se com descanso ou da família... Também vinha a calhar um jantar bem disposto com quem gosta de nos usufruir a companhia com uma conversa pós repasto e uma garrafa de vinho, ou duas, na loucura. Enfim sonhar ainda não paga imposto. E eu ando mesmo a precisar duns dias longe daqui, e nem sonhar consigo de quando o poderei fazer... Enfim, o turno deve estar quase a acabar. Preciso dum cigarro e de ar. De respirar e sentir ar...