É engraçado estar agora aqui a ver o dia entrar com pezinhos de lã pela janela, com esta luz cinzenta que vi tantas vezes neste mesmo sofá, enroscada em alguém, ou só encostada, ou só sentada neste mesmo sítio, mas a conversar com alguém ao mesmo tempo que deixava as mãos passear pela pele, a minha ou a dele, se é que na altura não eram, para mim, uma mesma pele. E agora também aqui estou, a fumar o último cigarro ao fim de horas de filmes, e afinal dantes também eram filmes; filmes que fazia na minha cabeça com realização a cargo da alma, essa que não sei onde pára, perdeu-se da pele na pele que agora é uma só, e onde não passeiam mãos e não há conversa. Só eu e o dia a nascer ao fim de uma noite só. Só uma coisa nunca muda, continuo a ir sozinha para a cama dormir, ou tentar.
Bom dia.