Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

29 janeiro 2011

- Mas o que é que quer de mim?
- Quero fazer-lhe aí uns dez filhos...
[???? devia querer dizer tentar fazer uns dez filhos... digo eu]

28 janeiro 2011

Abri a porta devagar, como sempre abri o coração, menos a ele a quem não senti entrar. Ainda às escuras sinto os seus lábios assentarem perfeitamente na minha testa, e sem sequer me dar conta não consegui evitar o sorriso nos lábios que não beijou. Dois ou três passos depois e solidifica-se o silêncio num abraço terno, sinto-lhe o corpo tremer de frio por dentro e por fora, a alma treme-lhe num olhar triste, e percebo que todos os ruídos da minha cabeça se sumiram, fugiram quando a porta se fechou atrás de nós. Agora só a vontade de o aquecer, de o apaziguar, de o acalmar por dentro e aclarar o olhar. Ficámos assim. Não sei quanto tempo, o suficiente. Corpos juntos, respirações coladas, conversas emudecidas, a paz a entrar devagarinho, o calor a vestir-nos por dentro.
Tudo o resto perde sentido quando sentir é tudo o que se consegue.
Agora, estou às escuras, a porta continua fechada, a cabeça repovoada de ruídos e só sinto a minha alma a tremer, mas não se vê e ninguém sente.

25 janeiro 2011

Dizes que nada dura a vida inteira, que as coisas mudam, que as pessoas mudam, que tudo muda, e reconheço-o, tudo muda. Mudam as estações do ano que se repetem, muda o dia para a noite, muda a vida que tantas vezes nos emudece, mas que sempre continua a cada dia, depois de cada noite.
Nem sempre mudar é deitar fora o que mudámos, é apenas aconchegá-lo de maneira diferente. Esta maçã que me deste com o nome, emudeceu-me pela tentação de viver, e eu mudei, mas sou eu. Tu destapaste a Eva em mim, pela tentação de ser eu, apenas eu, um eu que não via mas que tu viste. Mudei-me e continuei-me eu, contigo em mim.
As pessoas mudam, os sentimentos alteram-se, transformam-se, desenvolvem-se noutros, crescem, mas nunca esquecem a infância que os viu nascer, ficam sempre em nós se houver vontade de os manter, se se continuar a achar que vale a pena, doutra maneira deixamo-los morrer.
A paixão deixa de morder da mesma maneira, deixa de queimar, mas aquece e muito, os dias, as noites, leva vazios e traz sons, troca memórias por sorrisos, e vontade de estar em vontade de continuar. Sempre. Continuar a mudar momentos em sorrisos, paixão que não acaba em cada dia que começa. De maneira diferente.
Há coisas que duram uma vida inteira. Na minha, eu. Tu em mim. As pessoas que gostámos, em nós. Mudas, eu mudo, mas pode-se ir mudando de mãos dadas num só olhar, ou apenas mudar, mas sem nunca conseguir mudar a mudança que nos mudou já, e que dura uma vida inteira.

21 janeiro 2011

E no meio de nada surge-me a ternura que não sinto, mas que recordo poisada no silêncio do que não dizes, quando os teus lábios me falam o que te queria ouvir.
Mas como ouvir a ternura? como se ouve o carinho? como se substituem os beijos pequeninos com que me contornas o rosto, que me enchem a alma e a memória, quando ansiedade de nos termos se cala, e os olhos se me inundam de ti?

18 janeiro 2011

Como é possível encontrar o que queremos e tudo o que não queremos numa mesma moeda?
Duas faces duma mesma moeda que carregamos sem saber que destino lhe dar, à espera que a sorte, o tempo, ou alguém a faça parar numa das faces e assim se manter. Alguém que nos diga o nosso destino desenhado nas faces dessa moeda, que tantas vezes se torna insuportável de carregar, e outras nos faz levitar na leveza de quem é, por momentos, tão feliz.
E como suportar a espera que nos levará ao que nos espera?
Como engolir os dias em que o peso da distância se torna insuportável?
Como guardar inalteradas as horas que nos fazem o coração sorrir na companhia do amor?
Como fazer para poisar apenas a moeda no fundo dum qualquer poço de desejos, e desejar que o que foi nos ajude a trazer o sonho à tona da vida, perdendo o peso que o afoga todos os dias, para toda a vida.

12 janeiro 2011

04 janeiro 2011

Pode ser este ??

??

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em místicos arroubos?
Os monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!...



Florbela Espanca


Há coisas que faço que nunca fiz, há coisas que digo que nunca disse, há coisas que sinto que nunca senti. Não conheço este caminho, sinto-me perdida tantas vezes, e tantas vezes me encanto com o perder-me, como me desencanto com os desencontros do que se diz, se sente, e se faz.
Neste caminho que se vai fazendo debaixo dos meus pés procuro-me as minhas fronteiras de ti, procuro onde eu acabo e nós começamos, desencontro-me de mim e encontro-me em ti, em nós. Sou o que não sabia ser, o que pensava saber, sem saber que nunca se sabe ser afinal.
Eu sou o nós, tu és o nós, somos o mesmo no nós que não existe, mas que somos. E eu não percebo isto, de ser eu e ser tu ao mesmo tempo. De ser tu e não deixar de ser eu.
Não encontro no mapa as fronteiras para sair deste caminho para fora de nós. Para fora de mim.
É o nós que me dá o nó.