Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 março 2015

Sento-me à janela, ao lado do mundo. Do lado de dentro do vidro, do lado de fora do mundo. Olho e não vejo chover. Abro a janela um pouco para entrar ar e percebo que chove. Chuva molha tolos, os que pensam que nao chove porque não vêem, ou melhor, vêem chover sem saberem que chove. Há coisas que sem sabermos acontecem enquanto olhamos, porque olhamos mas não vemos. Os olhos enganam, como tantas vezes enganam os ouvidos quando ouvem o que não há, ou quando não ouvem o que há. 
Há olhos surdos e ouvidos cegos. Assim toda a gente se molha. Ou então só os tolos. 
Tola sou eu, aqui sentada a olhar a rua molhada sem ver chuva cair sabendo que cai, e a pensar nestas idiossincrasias estranhas dos sentidos que me fazem questionar o sentido daquilo a que chamamos razão. A razão ensina-nos a ver e a ouvir, a interpretar, descodificar o que se vê e ouve, mas nem sempre tem razão. Às vezes está a chover e os olhos não o vêem.
De repente fico-me a pensar: e a pele? A pele sabe sempre. Sabe até de olhos fechados e ouvidos tapados - a pele sabe. Razão tem a pele. O que a pele sente acontece. Sempre. Existe. Toca. Molha. 
Talvez a pele seja a melhor razão. O que a pele sente não engana. Talvez até seja melhor ser racional assim...

Boa noite