Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 abril 2012

Por longe que estejas: posso ainda te ver,
Por longe que estejas: tu permanecerás
Qual presença que não pode empalidecer,
Qual paisagem, a mim sempre contornarás.
Se tuas margens eu jamais tivesse tocado,


Mesmo assim saberia tua imensidão:
Ondas de meus sonhos me teriam levado
À beira de tua infindável solidão 


Rainier Maria Rilke
Estou farta.
Mesmo.
Cansada. Não vejo futuro. Acho que estou nesta fase da vida há demasiado tempo em que não consigo ver o futuro à minha frente, porque não tem luz, está tudo numa escuridão fechada. Não sei o que ela encerra, e não tenho qualquer vontade de saber. 
Os hoje são desprovidos de amanhãs. 
Viver assim, não é bem viver, é morrer a cada amanhã que nos parece faltar, a vontade que nos parece faltar hoje para tudo e não queremos repetir amanhã, não queremos que ele chegue a chegar...
E quando pensamos que só nós somos atingidas por este marasmo, esta tristeza estranha, dá-nos vontade de virar a mesa, de usar um sorriso postiço, um homem postiço, uma vida postiça e uma raiva muito genuína disfarçada em tanto postiço. 
Até a vingança genuína será postiça. 
Mas sentir-se-á na pele.
Frase da noite:
"O Amor é cego mas a amizade não."
(portanto oiçam os amigos quando estão estupidificados de Amor).
Outra frase que ouvi e não repliquei porque não me apetecia sair do meu mundo foi:
"se o meu sonho fosse casar e ter filhos nunca poderia estar com este homem, teria de estar com outro"
Eu percebo a ideia, mas não concordo. Porque a razão para se estar com alguém não é medido em alíneas de satisfação, de objectivos definidos, como uma check list com resultado percentual. Gosta-se ou não se gosta, e gostar é que é a razão para escolher quem se tem ao lado. Claro que os objectivos de vida pesam, e muito, claro que os projectos comuns ajudam, ou podem complicar muito, caso não sejam coincidentes, mas ou se gosta ou não se gosta, o resto é contexto. Temos de trabalhá-lo. Porque não há sonho maior para a vida do que o Amor ( com "a" maíusculo), os outros ao pé dele são mais terrenos, menos mágicos e podem ser trabalhados, acordados, resolvidos, o que não há é amar mais ou menos, amar assim assim. Ou se ama, ou não se ama.
(e são estas coisas em que me ponho a pensar quando oiço algumas frases e fico calada como se mergulhasse para dentro de mim, eu não percebo porque sou assim, eu acho que estou certa, mas estaria de certeza muito melhor se pensasse doutra maneira, se tivesse uma check list meia aprovada, ou assim. E não soubesse que isso não é nada, que listas é para o supermercado e pouco mais. Agora vou ali só descabelar-me um bocadinho mais...)