Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

30 setembro 2014


"O consenso é o oposto da submissão, mas não parece.Porque não pode haver consenso com quem é submisso, por mais que te digam “sim”. Nunca sabes, num submisso, de quem é a língua que te fala, se da alma, se da mente, se do medo. E de falsos em falsos consensos se tece a teia em que tramas tudo."


Do Menino,  e eu não podia concordar mais... 

Submissa nunca me conheci e não me parece bom para ninguém. Quando tenho a dizer, digo. Não me calo para manter a paz podre. Acredito que fazer-me submissa ou concordante não resolve problemas, encapota-os. Concordo quando concordo, discordo quando discordo. As duas com respeito e consideração pelos outros. Quando se tem de discutir, descabelar e despejar o saco, é isso que se deve fazer, tendo o cuidado de o tentar fazer com justiça e sem magoar ninguém. Explicar o que se sente e como, o que se gosta e não; só assim pode haver entendimento e felicidade. Submissão e dizer sempre sim, ou ouvir sempre um sim, não pode ser felicidade para ninguém, alguém se anula e alguém abusa, permitindo que o outro se anule, nenhuma das posições é saudável e em nenhuma há respeito. Um mente e o outro deixa que o que mente se anule. Que não seja o que é. É porque não pode gostar do que o outro realmente é. 
Quem diz amar um submisso não o ama porque ele não age como o que verdadeiramente é, apenas concorda em ser o que o outro quer que ele seja. De mim gostam ou não gostam, mas do que sou. Em geral não gostam digo o que penso e reclamo quando me magoam. 
De submissão não sofro, posso é às vezes sofrer por pensar assim, por dizer o que entendo que devo dizer e o que não gosto, ou por mostrar que gosto tanto quando gosto. Sou um bocado transparente, e isso deve ser monótono, não é preciso ser detective ou bruxo para perceber o que sinto ou penso. Eu digo, não deixo espaço a grandes descobertas ou grandes enganos. 

Casava-me já contigo - MEC

"Quando eu era pequenino e vi um cartaz do filme The Seven Year Itch, de Billy Wilder e de 1955, perguntei à minha mãe o que era. Ela respondeu: "Ao fim de sete anos a novidade do casamento começa a passar".

Ao fim de 14 anos, cada vez que eu olho para a minha mulher, cada dia que acordo ao lado dela, o que mais me comove e impressiona é precisamente a novidade de vê-la, poder amá-la, ter a sorte de ser amado por ela.

Cada coisa que fazemos é ao mesmo tempo antiquíssima – como uma cerimónia que construímos juntos só para nós os dois – e novíssima, pelo desejo e pelo entusiasmo de lá estar, naquele lugar que ela abriu para mim e ela no lugar que só é dela, que sou eu.

O casamento é só uma palavra: é verdade. Mas também pode ser a vontade de casarmos e ficarmos casados, todos os dias, com a mesma pessoa que amamos.

Cada vez nos casamos mais. As diferenças dela vão cabendo cada vez melhor nas minhas. Cada vez somos, a Maria João e eu, mais livres de sermos como somos, cada um de nós, e de sermos como somos, nós os dois.

Ela torna-se mais ela; eu torno-me mais eu, ela e eu com menos medo que o outro fuja por causa disso. Mas com medo à mesma. E ganância de viver e curiosidade em saber como é que o décimo quinto ano vai ser melhor do que este.

Mas vai ser."

MEC, aqui


E ler estas coisas ao mesmo tempo que me dá uma tristeza profunda e dura, dá-me esperança por perceber que existe e é possível, e talvez um dia possa voltar a acreditar que isto é possível até para mim. Quem sabe? Talvez um dia oiça "casava-me já contigo" sem ser da boca para fora, e depois de estar casada há anos.
(é capaz de ser difícil, porque não me quero voltar a casar, mas a ideia, a intenção, é que me seduz, me encanta, me adoça, não o papel. Muito menos o contrato reduzido a escrito segundo normas que alguém estipulou. Papel por papel que seja um nosso, com as nossas regras. Isso podia ter a sua piada... eu, por exemplo, de repente já me estou a rir por dentro. Quero alguém que ria por dentro também e comigo nestas coisas parvas, e sem precisar de abrir a boca para explicar o que se sabe. Ele saberia da parvoíce de cada regra mais parva que a outra, e isso é talvez o melhor contrato que pode existir.)

Bom Dia