Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

26 junho 2014


... Mais do que presos, que não gosto de correntes, prisões ou obrigações, estamos entranhados. Coisa difícil de desfazer. Não há chave que nos liberte, água que lave ou tempo que apague.
Mario Benedetti
A doçura que se sente, é a doçura que se dá ou a doçura que se recebe? Estava aqui a pensar... É que entregar a doçura que se tem, e quer dar, a quem não a sinta é uma doçura estéril, não vai a lugar nenhum, não sai de nós por não encontrar poiso em que se sinta em casa para crescer. Recebê-la sem ter vontade, não aquece e não adoça; ou nem se sente ou amarga-nos pela vontade de rejeitar uma doçura que não nos é doce, que quase nos fere e nos faz fugir. Tantas vezes de nós mesmos, porque percebemos que não conseguimos escolher que doçura querer, o que sentir ou a quem dar. Não se escolhe a quem se dá porque não escolhemos s quem nos damos. Na verdade, se calhar, não nos damos, roubam-nos, e tornam-se o nosso poiso, a nossa casa, a nossa doçura. Que afinal é tão pouco nossa... A doçura só é doce se o é nos dois extremos dum beijo em que se tocam. Como a ternura, como o carinho, como o mimo, como o desejo, como o Amor.
O chocolate só é doce na minha boca, sinto-o doce. Senão é só um chocolate e é só a minha boca uma boca.

(e agora vou fechar a luz ao telemóvel e fumar o último cigarro na minha varanda e rezar para que não amargue a doçura que me descobri, mas que na verdade nunca foi minha... só é nosso o que controlamos, o que pomos e dispomos conforme a nossa vontade ou razão. Infelizmente.)
Boa noite