Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

06 maio 2015

Só me quero ir embora daqui. Quero estar sozinha, ficar sozinha, não quero nada à minha volta, não quero sentir que existe nada à minha volta, que nada chegue a mim, que nada me toque, que nada me seja. Estou exausta do mundo, estou farta dos dias, fujo das noites. Durante o dia varro a memória para baixo do tapete do trabalho, dos problemas que se agigantam de dia para dia, à noite invade-me o passado que devia ter passado para me esquecer do presente que não vai trazer futuro, de tudo o que à minha volta se desmorona numa lenta angústia e rastejante crueldade, como a pele que nos arrancam devagar e a frio nas quentes extremidades nervosas, que gritam em modo mudo, e nada muda, só a frequência da dor, só a cadência do choro que não se chora, não se soluça, mas nos rola disfarçadamente rosto abaixo, para ir cair onde não se vê. De noite sonho com quem me atormenta e de quem fujo entre as minhas próprias sombras durante o dia, nem a dormir tenho descanso. Estou cansada e não aguento mais, nem quero aguentar mais, quero estar sozinha, ficar sozinha, onde nada mais exista, ou se calhar, onde eu não exista. Onde feche os olhos e simplesmente não seja, nada me seja, nada me falte, em que possa ser nada sem o sentir. Estou farta.

[e para cereja no topo do bolo acabo de me aperceber que há gente mesmo parva, enfim, vou-me mesmo embora, que se foda, também não estou cá a fazer nada mesmo. siga.]

O que desfoca não é o movimento, é tentar pará-lo onde o tempo não é variável.
Como a memória, como a fotografia. 
Como o passado.
Onde o tempo não é movimento.
Não mexe, não passa, desfoca.

Boa Noite