Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 agosto 2014



... já tantas vezes pensei, disse e escrevi isto... às tantas viro padre...
E realmente eu parece-me que só existo enquanto tiver utilidade, depois é fácil, é descartar e virar costas. Já não sou útil, já não sirvo aos propósitos da agenda do dia.

"Não estou bem seguro de nada. Susana sim deixar-me-ia. E vá, importa-me tanto que Susana me deixe ou não me deixe? A paixão acabou-se, acabou-se de tal forma, que agora não sei se alguma vez existiu, mas a minha memória, não o meu corpo, a minha memória diz que existiu. Pode ser. Quanto ao amor, o amor sem paixão digamos, é um conceito tal abstracto e geral, que se calhar continua a existir, mas sem importar muito. Estou acostumado a ela, à ordem que impõe em casa, ao seu modo frio de dialogar, ao seu estilo um pouco histérico para enfrentar as preocupações, à cara adormecida de sonhos, ao seu riso metálico, aos seus cremes, à sua pele, aos murmúrios, às suas depressões, às suas impertinências, às suas nádegas. Mas costume não é necessidade. Antes precisei dela, agora não. O que se passa então entre ela e eu? Paixão já não, quiçá amor lasso; necessidade já não; quiçá costume. Que palavra pode resumir tudo isso? Carinho? Estima? Apreço? Simpatia? Indiferença? Fastio? Aborrecimento? Raiva? Na realidade eu deixo-me viver. Não vamos investigar demasiado. Nem sequer em mim. Até um míope poderia dar-se conta de que isto não é a felicidade.
(...)
Sim, é quase seguro que a prudência fácil, este continuar como até agora, é quase seguro que isso seja o disparate. Não sou herói nem nada que se pareça. Bastou que Susana não acreditasse que eu falava sério, para que eu mesmo me levasse a brincar. Não estou para piadas, disse, e foi o suficiente para que as minhas palavras me soassem vazias. A verdade é que sei que não vou mudar, que não vou tomar nenhuma decisão abrupta, dramática. Enquanto se trata só de pensamentos, de um simples jogo mental, então sinto-me com ânimo, tenho a impressão de que vou decidir-me, de que vou dar o salto, mas quando chega o momento de criar os factos e enfrentar a sua responsabilidade, então dá-me um medo irracional, um pânico semelhante ao que me assaltava em pequeno (...) Não sei exactamente se é medo à miséria, à insegurança ou ao desprezo dos outros. Talvez seja menos digno que tudo isso. Talvez seja simplesmente medo ao incómodo, à falta de conforto. Porque quando penso que a minha vida é cinzenta, aborrecida e rotineira, não me escapa que a rotina inclui uma série de coisas insignificantes mas agradáveis.
(...)
Pode ser-se feliz junto a uma pessoa frívola, mas desde que se pertença ao mesmo grupo sanguíneo. E Dolly não. Dolly tem vida interior. É profunda quando quer. A sua simpatia baseia-se particularmente no que não diz: silêncios, gestos, olhares, etc. (...) Dolly querida. Vi-a pela primeira vez quando eu já levava dez anos de casado. Era aquilo, claro, o que eu tinha andado à procura, e agora tinha-a Hugo. Casei-me com Susana porque pensei que Aquilo não existia, ou melhor, resignado a que Aquilo não existisse. E, naturalmente, se uma pessoa pensa que Dolly não existe, então Susana parece bem. Mas existe. Por exemplo, agora, ali, no jardinzinho.
(...)
"Bem, agora está claro. Acabaram-se os sonhos. Mas deixa-me às vezes que fale contigo. Sinto que com ninguém, nem sequer quando estou sozinho, estou tão próximo da verdade. Da minha verdade, entendes-me? (...) como é que posso falar com ela, assim, de qualquer coisa, cães, mendigos e Cristina Jorgenssen? Creio que a amo mais, agora que estou seguro de que não acontecerá nada. Porque não a vi antes? Porque é que não levei a melhor ao Hugo? Com ela sim, sentir-me-ia valente. Ou isto será uma boa desculpa para me sentir cobarde?"

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[ existir o que não pensávamos existir, sentir o que achávamos só pertencer a telas e a páginas de romances bem escritos, depararmo-nos com o que procurávamos quando já não estávamos à procura, ou à espera. Nada nos prepara para isso, e nada nos salva disso. A conjugação perfeita, o estarmos com o outro como connosco próprios, sem reservas ou medos: inteiros. E a impossibilidade. As razões que se vão acrescendo para validar as cobardias, para as justificar e quase legalizar como quem moraliza. 
O livro não é o que esperava, escreve em prosa tão diferente do que se sente na sua poesia, mas o giro é que se sente a mesma sensibilidade, só não descrita na prosa, apenas através de alguns pequenos pormenores que só os atentos atentam, e a sensibilidade, a humanidade profunda da história, principalmente das reflexões dos personagens, da sua bagagem psicológica, de medos, traumas e desejos. Os personagens são muito humanos, muito frágeis, muito reais, e por isso profundos. E a parte política reflectida como fenômeno sociológico mas também psicológico do indivíduo. Interessante, mas não o que esperava. Ainda assim não me desilude. E isso é bom, e bolas muito raro nos dias que correm... ]
... Ainda não consigo. Ainda me agarram as saudades. Ainda se me colam as recordações a qualquer coisa que veja, que oiça, que cheire, que viva. Ainda te tenho entranhado na vida por viver como na vivida. 
Como é que se pode ter saudades de alguém que não nos ama, e se não nos ama nós não queremos? Como se pode ter saudades do que não foi? E como ter saudades do que não foi? Como se as memórias e as recordações fossem sonhos e nunca realidade, porque a minha realidade não existiu, nunca estiveste nos momentos como eu estive e recordo. São como memórias de contrabando, falsificadas, que comprei com a minha alma, como genuínas, verdadeiras, reais. 
Como agora saudades do passado mentido e do futuro a que não cheguei?
Saudades como? Como?

27 agosto 2014

"Mas o reconhecimento de que uma necessidade seja peremptória nem sempre significa que a solução seja iminente.
(...)
A maturidade não se adquire por decreto. Se rebentarmos, não por própria convicção, mas pura e exclusivamente porque rebentam os nossos vizinhos e o fogo se propaga, o mais provável é que as chamas recebidas não nos sirvam de nada, a não ser para nos destruirmos. Enquanto não fabricarmos o nosso próprio rastilho e a nossa própria pólvora, enquanto não adquirirmos uma consciência visceral da necessidade da nossa própria explosão, do nosso próprio fogo, nada será fundo, verdadeiro, legítimo, tudo será uma simples casca, como agora é casquinha (...)"

Mario Benedetti, Obrigada pelo lume

[... Verdade, enquanto não tivermos a nossa verdade e a sentirmos até à medula, nada se incendeia, nada muda, não há revoluções, políticas ou outras.]
- Não, come a fruta toda!... A fruta não te custa, tu gostas...
- Mas será que como porque gosto ou porque estou habituada, mamã?
(As perguntas que esta miúda faz com esta idade... Deu-me para sorrir com a reflexão dela...)
-Não sei, diz-me tu.
- Acho que é porque estou habituada...
- Então mas se não gostasses tinhas-te habituado?... 
- Não fui eu que me habituei, foi o meu estômago!
(... As coisas que me põem a pensar... Não foi ela que se habituou, foi o estômago, e o estômago nao parece depender dela gostar ou não...Tontices giras que só comecei a pensar muito mais tarde que ela... E que definitivamente não concluo o mesmo, há hábitos que se adquirem porque se gosta, ou se gostou para serem tão repetidos e virarem hábito...)
"(...) acabou-se o mundo lá fora. Ele conta-lhe tudo, pormenoriza-lhe os capítulos em que esteve dividido o dia. Sobre isso não há dúvida: é sincero com ela. Porque lhe conta coisas feias, coisas sujas, coisas terríveis. Como se soubesse que o amor dela é capa de aceitar esse lado negro do seu ser, essa zona do diabo que nunca mostra a ninguém totalmente.
(...)
Quando decidi ser como sou, fi-lo com toda a lucidez. Não vale dizer: que pena, enganei-me, peço perdão à sociedade, à família e ao fisco. Dir-me-ás: e a consciência? Não penses, eu também faço a mesma pergunta. A diferença está em que tu a fazes a mim, e eu a faço a esse fantasma chamado Deus. É a consciência?, pergunto-lhe. A minha pergunta, porém, é uma reclamação, como quando vais a uma loja protestar porque te deram um artigo com uma peça a menos. E a consciência? Isso é tremendo. Eu não tenho. Ou se tenho, nunca à encontrei.
(...) tinha chegado a captar, no entanto, que ela era uma espécie de instrumento, insignificante instrumento daquele homem difícil, impenetrável, duro. Tinha chegado a captar que era gozada, mas amada; desejada mas não necessitada. Ela era o instrumento de gozo do homem, e tinha validade enquanto ele precisasse dela como provocação dos seus sentidos."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[... Relações estranhas de um instrumento de gozo a quem se conta o lado mais feio porque se sabe que aquele amor aguenta tudo... Um instrumento de vários sons e propósitos, com serventia para tanta coisa, mas nunca para amar realmente, de facto, assumidamente... E no meio disto tudo: a consciência? Onde fica, onde está? Não há, ninguém sabe. 

26 agosto 2014

O engraçado é que apesar de tudo apontar para eu não valer um cu, parece que o meu cu vale alguma coisa; logo, pela lógica das coisas, eu valho pelo menos um cu. O que é que isso quer dizer é que eu já não faço ideia...
O amor não tem tamanhos nem medidas, ou se sente e é todo, é tudo, ou não é nada. Não há amar um bocadinho, ou amar muito, isso poderá ser gostar talvez, de resto há amar ou não amar. 
E isto foi o que me ensinaram os últimos meses, já não me posso agarrar à dúvida, ou à ideia de poder ser um pouco de amor, de ter sido um bocadinho amada. Agora sei que não foi. Não foi nada. Não fui nada. 
É impossível não ver. 
E se eu o dissesse, a resposta seria para pensar assim se isso me ajuda, não seria negado, não seria confirmado. Mas também já não são precisas respostas, os últimos tempos calaram essa dúvida. Essa pelo menos. A única que importava, que me importava, que me importou.

... Sim, era isto.
A parte que vale a pena, que faz valer tudo o resto.

Boa noite.

25 agosto 2014

Quando é que os casais começam a ser só companheiros e deixam de ser namorados? É com os filhos? Ou os filhos aparecem porque as pessoas deixaram de ser namorados e precisam de alguma coisa que os junte? Ponho-me a olhar para as pessoas e não consigo descobrir. Sei que quando quis engravidar ainda namorava, mas agora que penso nisso, não era apaixonada...
"- O problema é que estou farta do meu marido, senhor Budiño.
- Talvez esteja deprimida esta noite, senhora Ransom.
- Chame-me Mary, Ramon.
- Como é que sabe que me chamo assim?
- Está no folheto da agência.
- Você está deprimida esta noite, Mary. Isso acontece a muitas pessoas com o triste Carnaval. Deprimem-se.
- Não estou deprimida. Estou enfastiada do meu marido. Nada mais, é muito simples. 
- Só esta noite ou sempre?
- É sempre, mas especialmente esta noite. 
- E porque não se separa?
- Digamos que por preguiça. 
- É um bom motivo.
- É, não é? Fez-me rir, Ramon, e eu não me rio facilmente.
- No entanto, fica muito bem quando se ri.
- O seu escritório fica muito longe?
- Chegámos, senhora."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[... E eu que sou tão, mas tão preguiçosa, não tenho destas preguiças. E destas facilidades, desta rapidez de arranjar um entretém. No entanto ao menos é capaz de ser mais sincera a resposta, é escusado complicar ou vestir a verdade de outras roupagens. Prefiro a sinceridade, mesmo que estúpida.]
pois se calhar era uma ideia... 
aliás, ideia que se calhar já alguns tiveram... vestem e despem cá com uma bolina... 
... mas há vestidos que experimentam mais tempo e com mais vontade, e outros que nem chegam realmente a vestir põem assim à frente do nariz, acham muito giro, dizem que é lindo, mas não sei se chegam realmente a vestir com propriedade, vontade e convicção.
Seja como for o que não querem, despem e deixam no chão.
Vou pensar em começar a adoptar a mesma filosofia... é que chego à conclusão que quando tenho vontade de vestir e visto, normalmente é para levar, é para ficar, é porque quero. 
Tenho de variar mais, vestir e despir, e deixar no chão. E eu que ainda não arranjei quem me despisse os vestidos novos que ainda não vesti.... tss tsss que tristeza.... aliás dei por mim a pensar há dias há quanto tempo ninguém me toca, a pele e a alma. Nenhuma das duas.


"Quando encontrar alguém
e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e,
neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso,
se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento,
perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa,
se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração,
agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso,
preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR."

Carlos Drummond de Andrade

[de repente todas estas coisas perdem sentido, sei-as verdadeiras, mas inacreditáveis. Já não acredito, embora saiba que existem. Só não existem para mim, e com, sorte, não existem mais em mim, nem existirão.  Empenha-se a alma, dá-se tudo, e nunca resta nada, a não ser mágoa e tanta coisa para desembrulhar... às vezes penso que mais valia não ter sabido, não ter descoberto nada, não saber agora que isto existe e é possível; depois penso que é o meu caminho, e nos caminhos da vida não há desvios, tudo é caminho. Mas estou cansada de caminhar, os pés doem-me a lembrar-me os caminhos que decidi percorrer doesse a quem doesse, e a única a quem doeu e dói, é a mim, está certo, a opção foi minha. Assim seja, não me queixo, mas analiso. Analiso-me, e aos outros, e desiludo-me muito. Demais, e não me entendo. Se calhar estas coisas acontecem mas nunca a par. Eu senti, mas fui a única. Se calhar ainda estou para comprovar que isto por de ser correspondido, recíproco, bom, afinal!!...]

23 agosto 2014

Pretty much so...
Sou uma malcriada... é o que é!!
...ou isso, ou dou o tratamento conforme o comportamento... 
...uma das duas deve ser...
E hoje, hoje, agora desde há pouco, estou naquela ultima frase...
Há dias assim!!
"Este é o momento, estou certo. Nos dias em que estive alegre, sempre me enganei, sempre acreditei no que não sou, na vida cor de rosa, etc. Nas noites em que me senti tão mal como que para chorar aos gritos, não chorei aos gritos, mas silenciosamente, tapado com a almofada. Mas aí também se exagera. Não se pode ser lúcido com o peito inchado de angústia ou desespero."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[grande verdade, a angústia e o desespero não deixa a lucidez ver nítido. Absorve todos os sentidos, todos os sentires e abafa toda a razão, apaga todos os raciocínios bem intencionados de ordem. Talvez a sabedoria seja deixar passar a angústia e o desespero, reconhecer a sua ausência consciente,  para deixar a lucidez analisar e decidir.
E depois, o que se decide com lucidez não se duvidar, mesmo quando o desespero e a angústia nos faz faltar o chão e o ar, porque aí, decide o desespero o contrário da lucidez. E anda-se assim tempos sem fim.
E isto faz-me reformular: o que mais nos mostra o que realmente queremos? O que decidimos lucidamente, ou o que o desespero, no seu turbilhão, nos mostra? Se a lucidez assenta na razão e na calma de conseguir pesar e pensar, o desespero alimenta-se e encarna o medo extremo. O que é mais verdadeiro, maior? Não sei, não sei mesmo, porque o medo, o medo extremo do desespero, como todos os medos, serve para nos proteger; para ser tão intenso é porque protege alicerces fundamentais. Mas o medo, se nos protege do mal também nos protege de todo o possível bem que não chegamos a permitir possível. A lucidez raciocina demais e sente de menos. Algures no meio, onde se encontre uma lucidez sensível estará o melhor para nós.
Eu ainda estou no pós-desespero que queima. ]

... Mesmo!!
É tão bom sentir-me livre apesar de tudo, dever sentir-me livre. Nada me prende, ninguém me tem presa, ninguém me quer presa a si, e isso dá vontade de ser realmente livre, ninguém nos querer prender daquela maneira boa, que é estar presa de livre vontade, e com muita vontade... Vontade só de um lado não conta e percebemos que a ligação não existe, nunca existiu, ainda que a sintamos, não queremos sentir, queremos ser livres dela, porque só a nós prendia, só a nós tocava... E uma ligação tem sempre dois pontos que se unem, se não tem, não é ligação, é vontade ou outra coisa qualquer, e o álcool pode ajudar....
Boa noite.....

22 agosto 2014

...é verdade...
mas bolas, como eu prefiro um bom pedaço de mau caminho!!!
Dá para trocar??
eheheheh
(se calhar encontro-o no fim daquele bom caminho que custa a percorrer... quiçá?)
 

... Boa maneira de começar o dia...
Qualquer uma delas, na verdade.
Bom dia!
"- Por isso as grandes obras de arte se construíram sempre em redor do pecado.
- O que, no fundo, significa construí-las em redor de Deus.
- Naturslmente, porque sem Deus o pecado não existe. E construíram-se em redor do pecado, porque o pecado está proibido e tem castigo, e isso é o estético: o conflito entre a proibição e a culpa. Melhor dizendo, a arte é a faísca que resulta de friccionar a proibição com o castigo."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[...que melhor começo para a Eva, do que uma conversa não pecaminosa sobre o pecado??... ]

Boa noite

21 agosto 2014

Já me disseram que eu tinha a alma grande, mas eu não sei o que é isso de alma grande, o que é isso do tamanho das almas... Sei que há almas que no seu tamanho são felizes; outras que se acham grandes porque são felizes, mesmo que a qualquer custo e de qualquer maneira; outras não percebem essa coisa dos tamanhos, ou para que serve, só queriam mesmo era que alguns momentos tivessem a sua alma toda, pequena ou grande. E que fossem muitos. Tantos quantos se puderem roubar aos dias e outros tantos às noites acordadas.
A única coisa para que a alma serve é para sentir a vida, a minha acho que se aposentou.
(eu também digo poucas coisas, calo-as e guardo-as, tantas; só os olhos me dizem que não consigo calar... mas parece que nada disso basta, parece que nunca nada basta  ou serve...talvez fechá-los seja bastante.... ou deixar de ter o que guardar.)
... é o senhor desta frase o senhor que se segue...
só se pode esperar muito...


....verdade...
E estou danadinha para começar o próximo (o próximo livro, eu falo de livros...)
e ele está aqui ao meu lado a olhar para mim, e eu para ele, é a antecâmara de uma relação... 
resta saber que relação.... hummm veremos...
"Os cuidados de Matilde fizeram com que aquela gruta selvagem fosse ornamentada com mármores ricamente esculpidos em Itália.
A senhora de Rênal foi fiel à sua promessa. Não procurou de forma alguma atentar contra sua vida; mas três dias depois da morte de Julião, morreu beijando os filhos."

Stendhal, in Vermelho e negro

[acabou. E estas duas frases resumem bem estas duas personagens, e o amor para elas.]
"O entusiasmo e a felicidade de Julião provavam-lhe como ele lhe perdoava. Nunca estivera tão louco de amor.
(...) que o crime que cometo é horrível, e mal te vejo, mesmo depois de teres disparado dois tiros sobre mim... - e, neste momento, Julião, contra sua vontade, cobriu-a de beijos.
(...) ... Mal te vejo, todos os deveres desaparecem, sinto apenas amor por ti, ou antes, a palavra amor é fraca demais. Sinto por ti o que devia sentir unicamente por Deus: uma mistura de respeito, de amor, de obediência... Na verdade, não sei o que me inspiras...
(...) Explica-me isto, bem claramente, antes que eu te deixe, quero ver claro no meu coração; porque daqui a dois meses deixar-nos-emos... A propósito: separar-nos-emos? - disse-lhe sorrindo."

Stendhal, in Vermelho e negro

[... Tão pouca razão e nenhum raciocínio... Por isso o amor desgraça tudo, e é ao mesmo tempo a única graça de tudo, em tudo. Desgracemo-nos então, ou viveremos para sempre desgraçados. ]
É bom quando sentimos as pessoas voltar a nós, pessoas de quem gostamos e de quem nos custou afastar, por uma ou outra razão, mas com razão suficiente para isso. Quando se gosta, a distância só se impõe se for obrigatória ou resultar de se estar magoado. Aí acontece naturalmente, e é uma consequência amarga, mas a que não se pode fugir se formos verdadeiros connosco, com o que queremos das relações, e com os outros. Sempre que me distanciei foi por me sentir magoada, e é bom sentir que essas pessoas agora voltam a mim, que me procuram, que se preocupam. E isso é bom de sentir, e doce, e apaga as mágoas. E na fase da vida que estou, é bom sentir isso, sinto-me menos só e um  bocadinho valorizada, afinal voltaram por alguma coisa, eu era-lhes e sou, alguma coisa. E isso, no meio disto tudo, é bom.

Bom dia!
"Teria sido sensível a uma ternura ingênua e quase tímida, enquanto que a alma altiva de Matilde necessitava sempre de ter a ideia dum público e dos outros.
No meio de todas as suas angústias, de todos os receios pela vida daquele amante, ao qual não queria sobreviver, ela tinha uma necessidade secreta de causar admiração no público com o excesso do seu amor e a sublimidade dos seus empreendimentos. Julião sentia-se de mau humor por não se comover com todo aquele heroísmo.
(...)
"É estranho", dizia para consigo Julião, um dia, quando Matilde saía da prisão, "que uma tão grande paixão de que sou objecto me deixe de tal forma insensível! E há dois meses adorava-a! (...) Sou portanto um egoísta?" E fazia a si próprio, a este respeito, as mais humilhantes censuras. A ambição tinha morrido no seu coração, uma outra paixão saíra das cinzas; ele chamava-lhe remorso, por ter tentado assassinar a senhora de Rênal. De facto estava perdidamente apaixonado por ela. Sentia uma felicidade estranha quando, deixado absolutamente só e sem receio de ser interrompido, podia entregar-se completamente à recordação dos dias felizes que passara em Verriéres e outras vezes em Vergy. Os menores incidentes desses tempos, tão depressa decorridos, tinham para ele uma frescura e um encanto irresistíveis. Nunca pensava nos seus êxitos em Paris; aborreciam-no."

Stendhal, in Vermelho e negro

Impressionante, vem tudo nos bons livros (até aquela curiosidade minha daquele prazo inexplicável dos dois meses, pelos vistos é universal e eu não sabia!!... Santa ignorância!), aquilo que se faz com um propósito, com um futuro, com um fito, deixa de existir quando estamos perante algo que nos obriga a fazer o balanço da vida, a recordar o que nos tocou e valeu viver. A vida que sentimos ao longo da vida. O que vivemos sem um propósito, o que vivemos sem razão alguma que não fosse apenas vive: quando vivemos o agora - sem futuro, ou sem pensar nele. Tudo se relativiza, e só sobrevive o essencial, o que nos fez sentir felizes e vivos, o resto enevoa-se e esquece-se. Quando o propósito ou a razão se dissipam, tudo isso desaparece com eles, fica o que se viveu por gosto e vontade de viver.
O que fica foi o que nos tocou, o resto foi  tempo que passou e que não tocámos, passou só.

20 agosto 2014


... Que verdade tão bem "dizida"!!
É bem isto, sim!
Durante a noite acordei várias vezes a pensar em amoras, não porque as queira comer, ou me apeteçam, mas porque devia estar a sonhar com alguma coisa. Alguma coisa que tinha a ver com chamares-me doce de amoras... e eu rir-me e perguntar porquê, e dizeres-me que era o mais parecido com amor. E eu gostava dessas coisas doces, tontas e nossas, ou que eu achava que eram nossas...
Acho que durante a noite descobri que se nunca me amaste, se calhar me "amoraste",  outro verbo doce "made by you", mas este não faço ideia do que queira na realidade dizer, em que se poderia traduzir.
Aliás, como uma vez me tentaste explicar a diferença entre amoras e mirtilhos, porque para mim são parecidos, eu acho mesmo é que me confundi no sonho, na verdade tu mirtilhaste-me, e bem!!
Mas pronto é tudo fruta, fica tudo em familia.

19 agosto 2014

" "Nem sequer devo permitir a mim próprio apertar contra o coração este corpo maleável e encantador; ou me despreza, ou me maltrata. Que terrível carácter!"
E, ao amaldiçoar o carácter de Matilde, amava-a cem vezes mais; parecia-lhe ter uma rainha nos braços.
A impassível frieza de Julião redobrou o desgosto de orgulho que dilacerava a alma da menina de La Mole.
(...)
despreza-me, se quiseres, mas ama-me; não posso viver privada do teu amor! - e caiu desmaiada.
"Aqui está, enfim, esta orgulhosa a meus pés!", disse para consigo Julião. "

Stendhal, in Vermelho e negro 

[... E a isto se resume esta história, e tantas, tantas outras. O quebrar o orgulho de alguém. Não será apenas para refazer o próprio orgulho? Amor não será, digo eu... E para isso não olhar a meios, fingir amar outro alguém, fingir frieza e desprezo, acicatar o orgulho alheio para o seu triunfar, no fundo. Amor? Será? Ou apenas um jogo podre de poderes amargos? De subjugação de quem dizemos amar? De só sentirmos o amor que queremos do outro e sentimos por esse alguém, quando o tratamos mal, quando fingimos não amar, quando lhe quebramos o orgulho e o subjugamos a nós? Isto é amor?
Amor, para mim, não é uma relação de poder, é talvez aceitar não ter poder algum sobre o outro, sabendo que nos tem. É aceitar termos o coração noutro peito e esperar que no nosso habite o dele. ]
"Às vezes felicitava-se por desprezar aquela pessoa tão triste; mas, contra a sua vontade, a conversa dele cativava-a. Sobretudo o que à espantava era a sua completa falsidade; não dizia uma palavra à marechala que não fosse uma mentira, ou, pelo menos, um abominável disfarce da sua maneira de pensar, que Matilde conhecia tão perfeitamente a respeito de quase todos os assuntos. Este maquievalismo espantava-a. "Que profundidade!", dizia para consigo.
(...)
Quando, depois de uma longa divagação, conseguia retomar o raciocínio, pensava: "portanto, eu obteria um dia de felicidade depois do qual recomeçariam os seus rigores, fundados, infelizmente, sobre o pouco poder que tenho de lhe agradar, e não me restaria recurso algum: estaria arruinado, perdido para sempre... Que garantia me pode ela dar com um carácter assim? Ai! Falta com certeza elegância nos meus modos, a minha maneira de falar é pessoal e monótona. Santo Deus! Porque sou assim?"

Stendhal, in Vermelho e negro

[... Penso o mesmo, porque sou assim? E porquê estes jogos? Não sei jogá-los, não tenho paciência nem jeito, nem quero. E no entanto reconheço nestas linhas aquele efeito estranho que vejo por aí, desprezar o que se acha bom e se entende que verdadeiramente se procura, e ser-se atraído estupidamente pelo que se critica e se pretende afastar, apenas porque é o meio a que se está habituado, a que chamamos casa, ainda que sempre que se tem oportunidade se declare que é o que não queremos, é do que queremos fugir. Daí Matilde dizer do seu desprezo, mas a conversa teatral, e não sentida, de Julião a cativar, ainda que ela a saiba falsa. Gosta mais das genuínas ideias dele mas não resiste ao efeito que o teatro tem sobre si... Ou será sobre a sociedade? E por isso sobre ela?]
"Por seu lado, Julião achava que os modos da marechala eram um exemplo quase perfeito daquela calma patrícia que respira uma delicadeza exacta e ainda mais a impossibilidade de qualquer emoção viva.
(...)
Era tudo muito vago. Aquilo queria ao mesmo tempo dizer tudo e não dizer nada. "É a harpa eólica do estilo", pensou Julião. "No meio dos mais altos pensamentos sobre a morte, sobre o infinito, etc., a única realidade que vejo é um medo abominável do ridículo." 
(...)
Depressa compreendeu que para não ser vulgar aos olhos da marechala era preciso, sobretudo, não ter ideias simples e razoáveis.
(...)
Apesar do nosso herói fazer todo o possível para banir completamente o bom senso da sua conversa, esta tinha ainda uma cor antimonarquica e ímpia que não escapara à senhora de Fervaques. Rodeada de personagens eminentemente intelectuais, mas que, muitas vezes, nem sequer tinham uma ideia por noite, esta dama admirava-se imenso com tudo que se parecesse uma novidade; mas, ao mesmo tempo, julgava-se no dever de se sentir ofendida com ela. Chamava a este defeito conservar a marca da superficialidade do século."

Stendhal, in Vermelho e negro

... Muito bom, e tão intemporal...
"-Você tem o ar de um trapista. Exagera o princípio da gravidade que em Londres lhe incuti. O ar triste não pode ser de bom tom; é um ar aborrecido que se deve ter. Se está triste é porque qualquer coisa lhe falta, qualquer coisa que não lhe saiu bem. É mostrar-se inferior. Se, ao contrário, estiver aborrecido, é porque aquilo que em vão tentou agradar-lhe é que é inferior. Compreenda portanto, meu caro, como o engano é grave."

Stendhal, in Vermelho e negro.

[ de facto, grande engano e melhor observação, estamos sempre a aprender. Eu que ando tantas vezes triste, entendo agora que não se deve estar triste, ou melhor, parecer triste, porque revela inferioridade. Que é como quem diz revela que estamos na mó de baixo. E eu que sempre achei que se estivesse triste estava e pronto, embora nem a toda a gente se goste de mostrar - e eu não serei excepção -, também sempre achei que andar sempre a disfarçar é dar importância a mais a quem possa pensar em tirar conclusões sobre mim. Normalmente acabo por achar isso sim uma inferioridade, o dar importância a mais, e muitas vezes nem tento disfarçar, para quê? Estou-me a marimbar para o que pensem quando me olham para o trombil... Se estou na mó de baixo estou, não sou desgraçada por isso, é um estado, é passageiro, saber isso é saber-se não inferior. Disfarçar sempre é não se saber, e ter medo que seja mesmo inferioridade. Costumo dizer que a maior força é admitir as fraquezas, escondê-las é só mais uma das fraquezas.
Mas é uma reflexão e uma observação muito boa, e por isso aqui fica no meu registo.]
... nos dias que correm é mais os hematomas, melhor:
um só, único e geral... 
Dizem que com o tempo passa - dizem -, e mesmo que eu não concorde, continuam a dizer, 
e eu só digo a ver vamos, como diz o cego... que não sei se percebe de amor, mas como dizem que o amor é cego, vai daí tem umas afinidades, sabe-se lá... 
para ter afinidades com o meu devia ser cego surdo e esquizofrénico. Pois, coitado... é, eu percebo, ninguém sobreviveria decentemente assim. Suponho que isso diz alguma coisa de mim e desta coisa que me habita em forma de hematoma. Preciso de cuidados médicos, é o que é...
E agora vou ver se acabo o meu livro que me faltam umas cem páginas, e isso é já ali ao virar da esquina. ...Com licença.
Boa Noite.

18 agosto 2014

Acho que quando gostamos muito de alguém isto não é possível, não conseguimos matar a pessoa em nós, é a própria pessoa que vai fazendo isso, vai-se matando em nós, matando a ideia que tínhamos dela aos poucos, até ao ponto em que já não a sentimos viva na nossa vida. Nunca se consegue matar em nós alguém que amamos porque isso seria matarmo-nos, amarmos é esse alguém fazer parte duma parte muito querida de nós. E isso só permite suicídios dos que anamos em nós, e não homicídios, porque qualquer homicídio seria o suicídio da nossa alma e carne, deixemos isso para quem não (nos) ama.

...boa frase. Mesmo.

Por ti vivo
E contigo sou gente

Para ti roubo as rosas
E contigo sonho

Por ti e contigo
Sou amor.

António Alves

[noutros casos acaba a faltar o "des"... desamor.

E eu não sou de rosas, se me quiserem roubar qualquer coisa, roubem-me margaridas se as apanharem por aí... mas margaridas por aí só em sonhos. As rosas, a perfeição, a elite das flores aparece em tudo o que é jardim, já as populares margaridas - e eu digo margaridas e não malmequeres, que são muito diferentes-, garanto que é muito mais difícil. Eu sou uma gaja esquisita, nada a fazer... na verdade se me quiserem roubar alguma coisa, roubem-me o coração. Se o encontrarem. Acho que nem em sonhos... ]
Boa Noite

17 agosto 2014

"O amor feito de raciocínio tem realmente mais espírito do que o amor verdadeiro, mas é feito apenas de momentos de entusiasmo; conhece-se excessivamente, julga-se sem cessar, longe de desencaminhar o pensamento, é construído à força de pensamentos."

Stendhal, in Vermelho e Negro

"Há uma solidão tão grande nesse mundo
 que você pode vê-la no lento movimento dos ponteiros do relógio."

Charles Bukowski

[só quem pára para ver e sentir a lentidão dos ponteiros do relógio a sente realmente.]
Boa Noite

16 agosto 2014

Acordo a soluçar, a dizer repetidamente "não esteja assim", "não fique assim", e lembro-me daqueles olhos que olhavam para mim, quase suplicantes sem quererem mostrar-se suplicantes. Lembro-me daquele olhar e de lhe dar a mão e de lhe fazer festinhas, no sonho abraço-o e é assim que acordo a dizer para não estar assim, não ficar assim, mas sente-se o sofrimento por trás da dignidade. Sente-se muito. E abraço-o e penso que o abracei pouco e que chorei pouco e agora faço em sonhos o que devia ter feito, o que queria ter feito, ou não o sonharia tanto. Comigo tudo é lento, até a falta, até o arrumar, até o saber viver assim, o saber viver e pronto. Penso que tenho de abraçar mais a minha mãe, olhar mais nos olhos do meu pai, tentar estar mais perto dos dois. Eu sou lenta mas vou aprendendo à medida que vou chorando. Talvez isso ajude a ser cada vez menos tarde. Há pessoas que já não posso abraçar, só sonhar. Digo isto e penso que é válido para todos os abraços que se querem, mais vale abraçar quem posso ainda e agora, e esvaziar os sonhos que andam sempre atrasados. Os meus pelo menos, deve ser genético, até os meus sonhos são atrasados...
Ontem perguntaram-me: "qual é  a sua filosofia de vida, se tivesse de a definir, como a definiria?" E eu, de repente fiquei muda, não sabia o que responder, nunca tinha pensado nisso. Durante uns segundos pensei o que me fazia sentir viva, o que me fazia as vezes dar graças por estar viva, e depois respondi exactamente isto, que gravei na memória: "Ter o mais possivel momentos onde se pode pôr a vida toda." E depois fiquei a pensar naquilo, porque procurei em mim aquilo que é a minha verdade, o que quero da vida, o que me preenche. Fiquei a pensar naquilo que me saiu de dentro e que me define. Tentei pensar em coisas, momentos, situações, que me fazem ou fizeram sentir plena. E chego à conclusão que são as coisas mais diversas e diferentes entre si, mas sempre puras, genuínas, cruas até, mas que têm de comum fazer-me sentir a mim mesma, em contacto com a minha essência, que eu não sei o que é mas que nessas alturas sinto, sinto plenamente. São coisas tão simples como uma frase que se lê e se me encaixa tão perfeitamente que me faz entender e concretizar, verbalizar, coisas que sabia ou sentia mas não sabia dizer; outras podem ser a gargalhada mais verdadeira, mais pura, mais genuína, que alguém provoca, e que se me sai essa gargalhada, é porque a intimidade é confortável, próxima e devolve-me a mim. Outras são coisas tão estranhas como a cumplicidade perfeita dum olhar, da inutilidade das palavras face a coisas tão maiores e mais extraordinárias que a sua explicação, que não existe ou não é razoável, para quem não a sente. Outras podem ser um abraço que me devolve a minha metade que perdi algures na vida, ou ainda antes, e só alguns abraços me devolvem, como uma casa sem morada a que se regressa. E beijos, há beijos que valem uma vida, e têm a vida toda dentro. Há alturas em que parece que valem uma vida inteira, porque duram a vida inteira, mesmo depois de nos sentirmos mortos e extintos. O pior é viver sem eles, ou com aqueles que não chegam a ter vida bastante para que algo nasça, ou eu sinta a minha essência. E a minha essência é afinal aquilo que será a minha filosofia de vida. E como alguém dizia a olhar para as minhas estrelas, eu sou uma mulher feita para amar, para o amor, para a partilha, maternal e erótica, num equilíbrio difícil em que o fiel é o amor, ou tudo desmorona, e não serei nenhuma delas. Se desistir disso enegreço, seco, esgoto-me, morro. Nessa altura talvez as fachadas me cheguem. Por enquanto quero amar, quero que me amem, e amem o amor que sei dar, como sei dar. Quero que me amem em essência, essencialmente.

Boa noite.

15 agosto 2014

Olá amor. 
[as melhores duas palavras para começar um dia. Um dia há umas semanas começou assim. E eu não preciso de muito, estas duas palavras chegam-me para o dia se fazer bem nascido. Sinto falta de as ouvir, de as receber assim escritas, de as escrever... As melhores palavras de que há memória para começar um dia. Um dia... ]
...bem visto.
E hoje tanto haveria para dizer, mas não me apetece, fui passear pelo mapa dos astros e vim bem disposta, nem sei porquê, mas é verdade.
Há astros que não mudam, mas quando olhamos para o céu vão (a)parecendo sempre diferentes.
E isso é bom.

Boa Noite

14 agosto 2014



... Às vezes ainda me acontece isto...
Pergunto-me se alguma vez te aconteceu... 
Ou se realmente dizias o meu nome como quem chama, quando a minha falta te apertava mais... Uma vez escreveste-me um mail que dizia que quando te querias sentir bem bastava pensar nos meus olhos, no meu sorriso, e dizer o meu nome de olhos fechados... E eu pergunto-me se era verdade, ou se o dizias como dizias outras coisas a outras pessoas, que quando descobri e as apanhei, disseste que era o que tinhas de dizer, afinal que haverias tu dizer senão aquelas coisas??... Estas coisas que me dizias também eram porque, afinal, o que haverias tu de dizer?, senão mentir que de tão habituado já te está entranhado... Será que ainda reconheces a verdade, a tua verdade? O que queres e o que gostas? Ou isso é coisa que em ti não existe, como amor não existe... Por ninguém, parece-me...
" "Contudo, tenho de lhe falar", disse para consigo; "é uso confessar tudo ao homem amado." E então, para cumprir um dever, e com uma ternura que estava bem mais nas palavras de que se servia do que no tom da voz, contou as diversas resoluções que tomara a seu respeito(...)"

Stendhal, in Vermelho e negro

Nunca está nas palavras, nem nas mais lindas e perfeitas e adequadas. Não ... A ternura está num gesto de um olhar que fala. A ternura fala pelo toque que nos chega à alma.
A ternura está no carinho que pomos na voz, no toque que mergulha além da pele, no olhar que respira como vemos o outro.
A ternura fala sempre muda, só a ouve quem a sabe falar.
...sim, também já tenho essa convicção, 
não existes como te vejo, como te vi,
não existo como me vi,
e ainda assim continuas a falar-me, 
continuo a ouvir-te.

Boa Noite

13 agosto 2014


Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário
e no seu lugar
vou colocar outro absurdo

Eu vou tirar suas impressões digitais
da minha pele
Tirar seu cheiro
dos meus lençóis
O seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática

Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
com quantos “nãos” se faz um sim
Eu vou tirar o sentimento
do meu pensamento
sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento
a qualquer momento
Procurar outra lembrança
Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz
dos meus ouvidos

Eu vou tirar você e eu de nós
o dito pelo não tido
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
com quantos “nãos” se faz um sim

Alice Ruiz

[ahhh eu vou!!...]
...sempre uma boa maneira de começar o dia!!!
ehehehhe

Bom Dia!!


“Dançava como um títere, tendo os cordéis dentro dela, atados na alma. Depois tomou-me nos seus braços e, sem pedir, desapegou-me das roupas. De todas as roupas. Colocou-me a outra coroa e convidou-me para dançar com ela, os dois nus. O meu corpo não tinha cordéis na alma, apenas acanhamento; sentia-se vazio de música. Mas ela pegava-me nos braços, endemoninhava-me o corpo, arrastava-me no seu bailado revolto. E ria. Um sorriso que se media a palmos como se mede o diâmetro do mundo, redondo, grávido, imenso. E eu entrei dentro desse sorriso, onde coube nu e sem vergonha. E dancei com ela como dança um louco, como se não houvesse amanhã, como se o hoje fosse pouco. E quando os nossos corpos caíram na cama, despidos e cansados, dormimos como dormem as flores, caídas umas sobre as outras, a partilhar o calor, a dividir o luar. Só quando tudo dormia já, senti que havia música dentro de mim. Finalmente. Música…”

João Morgado

[...lembro-me de dizeres que eu beijava como quem gosta, lembro-me de dizeres que gostavas quando tinha pressa na vontade, quando a força do desejo se notava nos gestos, lembro-me de dizeres que gostavas de tudo em mim e de ficares a olhar para mim a dizer que eu era linda, lembro-me de dizeres que até da minha gargalhada gostavas e de ficares muitas vezes a olhar para a minha boca enquanto falava, lembro-me de a meio duma conversa qualquer me calares com um "adoro-te" ou com aquele "olá" da praxe que faz recomeçar tudo e começar pelo beijo que faltava, lembro-me  de quando me querias desconcertar perguntares-me se hoje já alguém me tinha dito que sou linda, lembro-me de me chamares fera e bruxinha e cobra porque te enrolava nas minhas pernas, mesmo a dormir, lembro-me de dizeres que sabia dançar, que usava cada músculo como queria, lembro-me das conversas à lareira, ou com a porta da varanda aberta a ver o céu que restava para nós, lembro-me de dançar contigo à luz de copos de vinho, sentados no chão enquanto o teu braço nos fazia um só corpo e o balançar era o nosso silêncio a dizer o que as palavras não sabem.
Lembro-me ainda de tanta coisa, tanta coisa onde coubemos sem vergonha e inteiros (ou só eu), como se não houvesse amanhã, porque só havia o agora, e o agora era o nosso mundo, e a música era o silêncio dos olhares que conversavam, e em que as almas que se entendiam.
Quando é que o mundo acabou se ainda há música dentro de mim, mas o agora já era?
...não me lembro... ]

Boa Noite

12 agosto 2014

...face a isto, vamos lá escolher a frutaria a dedo!!!
...e o "fruteiro" também!!
Bom Dia
(dia tristonho e cinzento, não há maneira do sol se estabelecer de vez por estas bandas.... bahhh)



Cansa-me ser quem serei
Porque em tudo esse outro
Se parece com o que sou.
Cansa-me o adeus de quem nasce.
E a viagem, à nascença, morre de fadiga.
Só a tua lava me lava.
Resto eu em ti
Terra ardendo,
Chão de água e fogo
Abraça-me.
Abrasa-me.

Mia Couto

[Terra ardida,
chão de cinzas que não voam.
Cansa-me ser, cansa-me ainda ser,
Carvão onde era ardente a brasa que me queimou.
Cansa-me já o futuro que serei.
Cansa-me ser a todas as horas,
Cansa-me até o que fui já
e nunca cheguei a ser,
Sou o cansaço que respira
o que não se viveu.]

Boa Noite

11 agosto 2014


Durante o sono retiraram-me uma costela
Ficou-me no peito um vazio que não consigo preencher
Custa-me a respirar
Eu quero de volta a minha costela
quero de volta todas as costelas
Quero de volta o paraíso
quero de volta o silêncio rumorejante
quero de volta as poluições nocturnas
e diurnas
Quero uma mulher
feita de chuva
e vento
e fogo
e neve
e luz
e breu
e não de argila
como eu.

Jorge de Sousa Braga

[... dou-te a minha costela se me levares para o tempo antes do paraíso, e da maçã e de eu ser uma costela tua, de eu ser tua. Antes de tudo, antes de mim; porque o depois é sempre tarde, e é vazio, e torna-se - e torna tudo - em nada.]
... e dito isto, deslarga-me sim??
Dispenso os telefonemas a desejar um bom dia e semana de trabalho, dispenso as mensagens cheias de salamaleques que me irritam e basicamente toca-te pahhh.... a sério é que um dia destes sou gaja para me passar, e isso raramente é uma coisa boa de se ver....


Melhor dormir se o tempo se faz sem ti
e guardar-te em sonho
até tu mesmo seres noite.

Mia Couto

[Melhor dormir, sim...guardar tudo em sonho até o sonho anoitecer noite cerrada.
Coisa difícil, essa da noite cerrada, quando no céu habita uma lua que hoje dizem mais cheia de si do que o seu costume. Mais altiva e majestosa. Ironia para quem quer cerrar sonhos mergulhando-os na escuridão da noite. Mas escuridão é apenas todo o tempo que se faz sem quem queremos e queremos querer, quem nos faz ser lua brilhante em noite cerrada.]
Boa Noite

10 agosto 2014

Não sei o que sou, nem o que não sou, 
mas sei que muito disto é verdade em mim, mas nem tudo.

09 agosto 2014


..esteve-se bem aqui, com a areia nos pés e o sol a aquecer a pele. Os pés já salgados e bem no chão. 
A conversa pára uns instantes, e a olhar o ir e vir do mar pertinho de mim, penso que o que me vai custar é perdoar-me, é desculpar a minha estupidez, a minha crença, o sentir que me sentiam duma forma parecida com o que eu sentia. Devia ter sempre sabido que não era possível, não aquela pessoa e não por mim. Devia sempre ter tido a certeza e nunca duvidado, mesmo quando naqueles silêncios em que os olhares falavam, a pele sussurrava e os lábios mudos gritavam pela outra boca, em ternura ou em desejo, havia de tudo. Mesmo aí, devia saber que era coisa só minha, porque nunca houve atitudes que sequer fizessem adivinhar o contrário, pelo contrário, bem pelo contrário.
E agora com os pés no chão, com tudo o que tenho sabido e visto,  saber que tudo era mentira, tudo foi sempre uma qualquer mentira com o propósito apenas de tentar trazer alguém a outro alguém que nunca a pareceu querer realmente, até achar que tudo era um jogo e não podia perder. Há pessoas que se têm em tão grande conta que não podem perder em nada porque são o máximo em tudo, principalmente no que sempre acharam controlado. E afinal sempre acharam bem, não se enganaram, comprova-se. Por outro lado temos alguém que não se importa, e até gosta ao que parece, de o quererem apenas como troféu, como prova irrefutável para toda a gente que se continua e sempre foi, vitorioso. A mim o que me custará é perceber que fui demasiado inocente, demasiado ingénua e sempre demasiado genuína. Fui fraca e burra. Fui apanhada no meio dum jogo que não sabia que se estava a jogar e não teria outra maneira de sair senão mal, magoada e com uma imagem de mim mesma tão fraca, tão enganada. O difícil vai ser perdoar-me, não por quem eu queria não me ter querido o que é o risco de toda a gente que gosta e se entrega, mas por me ter enganado tanto com alguém. Alguém que não se importa de me ter magoado, ou de me continuar indirectamente a magoar, escudado naquele seu egoísmo, do estar a fazer pela vida e os outros que se danem.  E nesta história os outros que se danem fui sempre eu. Nunca me deram folga do papel.
Penso isto, e de repente percebo que a conversa já tinha retomado e eu nem ouvia o que me diziam. E agora chego aqui e lembro-me disto mas não da conversa.

08 agosto 2014


...por acaso nunca gostei desta expressão "ele não te merece" ( e se estou farta de a ouvir, senhores!!!... apetece-me logo disparatar, até me fartei de a ouvir na primeira pessoa: "não a mereço"... haja pachorra...), porque na verdade estou-me a marimbar para o que ele merece, o que me interessa é o que eu mereço - sim, sou uma sacana duma egoísta, apedrejem-me - e eu mereço ser feliz;
 e se é com aquela pessoa que eu me sinto feliz quero lá saber se tem muitos defeitos 
(se gosto dela é porque não me metem muita comichão esses defeitos, só gosto é de os conhecer sob pena de não conhecer a pessoa...), 
quero lá saber se quem está de fora acha que eu faço mais por ele que ele por mim, quero lá saber se gosto mais dele que ele de mim 
(ninguém ainda parece ter percebido que a melhor parte cabe a quem ama mais, a quem tem a certeza que está ao lado da pessoa da sua vida, que não duvida, e a quem dá tudo, e só por poder dar tudo à pessoa que quer e ama não há nada melhor. Gostar um pouco menos é dar menos, e dar menos é ser menos feliz. Ou eu vejo assim)...
...O que me interessa é que sou feliz ali e ali sinto ser o meu lugar, e quero estar ali, e porra eu mereço.
 Se ele merece ou não, são lá contas da vida dele...ele que se amanhe com elas, se não merece faça por merecer, ou perceba duma vez que quem faz a outra feliz merece-a sempre. 

... mas  espero que venhas a ter o que mereces.
E eu também.
Era bom o mundo se cada um tivesse o que merece.
Muito bom, porque justo.


07 agosto 2014


Estou apaixonada por este Mario Benedetti, pela maneira como sente, a maneira como pensa o que sente, e a maneira como nos escreve o que sente. Está decidido, o meu próximo livro na calha das leituras, espero que a começar ainda antes de férias seja um romance dele que comprei na feira do livro. É rara a tradução da obra dele para português, agora vou ver se é bom em romance, mas nada doce assim pode ser mau. E eu não quero amargar. Mesmo que tenha de cometer erros inadiáveis, como este de que ele fala. Ou talvez o verdadeiro erro seja termos alguém no coração que não nos sai da cabeça, quando esse alguém não nos tem, ou alguma vez teve, no seu. Se calhar é isso.
...farto-me de ouvir... "homens há muitos!!"
"Anda para a frente, ele não te merece..."
já ouvi isto mais vezes do que conseguiria contar o que quer que fosse... 
e realmente a foto comprova... homens parece que há muitos..
mas porra!!! onde é que estão eles??
...e mais assim, deste calibre? onde se escondem, e estão todos juntos, é? 
Para não terem frio, ou o raio?
Também, verdade seja dita, que destes todos só gosto mesmo do do meio, os outros parecem uns miúdos,
e segundo me constou ele está como eu, gosta de gajos.... 'tá tudo tramado neste mundo, é o que é...
Valha-nos agradar aos olhinhos, pronto...
E um dia cruzarmo-nos com um espécime, que não sendo tão.. 
...tão... como dizer... bom, o melhor é não dizer, pronto... 
...nos possa fazer sentir que nós seríamos sempre a preferida, se não por ser boa todos os dias - ou mesmo só aos fins de semana e feriados e férias -, somos quem os faz sentir bem, temos as parvoeiras certas que divertem os dois e criam a vontade de se estar junto a fazer o que quer que seja, somos o apoio quando apoio é preciso, somos o carinho e a ternura na paz da intimidade que nos regenera e refaz todos os dias, e não sendo boas como as capas de revista, damos-lhes vontade de nos encostarem à parede e eles a nós.
Dizem que homens há muitos... também o outro dizia... "chapéus há muitos, seu palerma".... 
é isso, a palerma aqui devo ser eu... 
...de resto noutras paragens a fila já andou...
Bom Dia!!



"Às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não para fugir, mas para descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira."

Marla de Queiroz

[...sim dormir para descansar do mundo de fora e tentar calar o de dentro. Dormir e estar com quem nos faz rir, nos faz bem, nos faz sentir bem e que gosta de nós e de quem gostamos. Entre conversas e risos o passado pesado vai caindo por entre os dedos, mas, às vezes, a meio duma gargalhada, surpreende-nos ainda, e parece que fechamos as mãos para não nos escapar, como se estivéssemos a perder algo valioso, algo nosso. Depois percebemos que estamos só a tentar guardar o que nos apodrece e deixamos de fazer força, e deixamos que livremente o que tiver de cair, caia. Afinal nenhuma mão segura a nossa, para que juntas, em cima desse passado que se guardaria preciosamente embrulhado em amor, construíssem um abraço que não se desfazeria, sem precisar forçar a força da união, deixando apenas cair o que tivesse de cair e nascer o que fosse para nascer. E depois percebemos que o que nos escapa por entre os dedos é também isso, viver o que seria para viver. 
Sim, às vezes é preciso dormir - e eu bem preciso - e é o que agora vou tentar fazer, esperando escapar por entre os dedos dos sonhos que não me deixam e me agarram com força há semanas, como se também os sonhos não me quisessem perder, não me libertassem. Mas são meus, e eu é que me perco neles e por eles. Eles sou eu e eu sou eles. Só escaparei deles quando escapar de mim, quando deixar de fechar as mãos para não perder o que nunca foi meu. Às vezes é preciso deixarmo-nos adormecer, entregarmo-nos ao que vier, abrir as mãos e fechar os olhos. Dormir.]

Boa Noite

06 agosto 2014

ahahahhaha..
tá certo, tenho muito que pedalar então, 
e primeira mulher... só se for tão mentiroso como o último...
mas está bem apanhada sim senhor!!


Yes... I think I'm the one...
the one for me!!
Sem perigo de me tirarem o lugar.... não vou ser trocada, traída, ou humilhada,
 nada disso, o meu posto está seguro, só vos digo!!
É uma relação a sério esta!!
E mais.... ninguém se mete no meio, essa é que é essa!!!
bahhhhhhh

Bom Dia!!

... tenhamos fé.
...ou qualquer coisa parecida com isso, 
acreditando sem esperar.
Já só me falta acreditar.

Boa Noite

05 agosto 2014


Eu a modos que sou uma pijama person, tanto de Verão como de Inverno. De Inverno calças compridas e manga comprida, no Verão calções curtos e coisas de alças... mas o certo é que tenho percebido que há quem aprecie as camisas de dormir e que são mais arejadas e coiso, mais femininas e tal, e vai daí ultimamente meio sem dar conta fui começando a usar afora com o tempo mais quente... e de facto há que concordar é muito arejado, tanto que de manhã acordo com aquilo a fazer de cachecol enrolado quase no pescoço... mas é que de cachecol não preciso com este calor.... o pessoal que é adepto disto é só para ver não é? e para quem usa, ou não se mexe durante toda a noite ou tem muitas dores de garganta de manhã... só pode. Mais vale dormir sem nada... isso além de arejado dá para uma pessoa se mexer à vontade sem acabar de cachecol. 
Pronto, era isto. 
Bom Dia!
"Matilde esforçava-se por tratá-lo por tu; evidentemente dava mais atenção a esta maneira de falar estranha do que às coisas que dizia. Esse tratar por tu desprovido do tom de ternura não dava prazer algum a Juliao; admirava-se de não sentir felicidade; e, para a sentir, teve de recorrer ao raciocínio. Via-se estimado por aquela rapariga tão altiva e que nunca concedia louvores sem restrições; com este raciocínio conseguiu a satisfação do seu amor-próprio."

Stendhal, in Vermelho e negro

[... Para sentir felicidade teve de recorrer ao raciocínio? Engraçado como pelos vistos a felicidade pode ser pensada, convencida se agradar ao nosso amor-próprio!! Nunca tal me passaria pela cabeça. A felicidade para mim sempre foi sentida sem pensar, senão é talvez contentamento, satisfação. Felicidade não deixa espaço para pensar, não enquanto se sente, depois sim, pode-se pensar e até tentar entender ou justificar, sem grande resultado, provavelmente. Ser feliz talvez seja uma coisa que se possa analisar e pensar porque é um contínuo, estar feliz, sentir-se feliz é uma plenitude que anula o pensamento, talvez por isso seja o estado de felicidade pura.
E eu agora penso que talvez seja boa ideia dormir, porque a ideia de ir trabalhar amanhã não é lá muito boa... Eheh]

nota pessoal para a vida inteira:

fugir é muito cómodo.
se arrepender de amar é muito prático.
ficar dói.
amar até a última gota de sangue esmaga o ego.
mas é aí que você nota que a vida vale a pena.
quando você lê teu nome na paz nos olhos e o sorriso nos lábios de
alguém.
que me perdoe a filosofia moderna que quer nos fundir a solidão.
as pessoas não sabem ser par. eu não sei ser ímpar.

Carol Souza, Voraz.

[... será? arrepender-se de amar será prático? ou será uma questão de prática? prática de não arriscar viver e perceber que se está vivo. Se calhar é. As duas coisas.]

04 agosto 2014


(...)
Did you want to see me broken? 
Bowed head and lowered eyes?
Shoulders falling down like teardrops, 
Weakened by my soulful cries?
(...)
Maya Angelou, Still I Rise 


[... não sei porque não consigo fugir, não fui feita assim, não me está impregnado no adn nem no olhar sobre a vida que já vivi ou que que está por vir. Fugir é talvez uma perspectiva das coisas, uma perspectiva fraca de nós perante as coisas, por isso não fugir obriga a inverter perspectivas, enfrentar e fazer da fraqueza que sentimos a força que queremos ter. Não fujo, normalmente de nada, nem de um olhar nem dum caminho, por tortuoso que seja, se eu o achar o caminho certo, é por lá que vou. Não fujo e olho de frente - frente a frente, e ainda arranjo forças não sei onde para insuflar a espinha e, olhando ao nível, parecer que olho na superioridade da dignidade que não encontro nos olhos que me olham, quase medrosos, quase submissos. Estranho as pessoas que se estão sozinhas se sentem assim tão indefesas... Precisam de plateia ou de reforços? Só aí são tão poderosas? E face a isto empino o nariz, sim, porque sou dona dele e não me rebaixo quando me querem pisar, atingir, magoar. Não dou esse gosto a ninguém, só eu tenho todos esses exclusivos, de que uso e abuso, é certo, mas é meu, não o admito a mais ninguém. Não sei onde vou buscar forças, mas quanto mais desfeita estiver mais as forças ressurgem donde não há nada, se me tentam pisar e julgam desfeita. Acho que nunca parecerei tão snob como quando me julgam aniquilada, desfeita, no chão. Reergo-me sem notar que o faço de tanto que me tremem as pernas, mas caminham direitas e sem hesitações, a pisar com o calcanhar, como quem sabe o terreno que pisa. Mesmo que eu saiba que a mais pisada sou sempre eu, não sou mulher de choradinhos, ainda que possa passar noites inteiras a chorar. Escolho quem me pode ver desfeita e não uso isso para que façam o que quero, para ter o que desejo, choro e desfaço-me, mas não o uso para outros fins. Sou dona do meu nariz com propriedade plena, só quero o que me querem dar: não peço, não imploro, não me ajoelho... pelo menos não para isso.
Sou dona do meu nariz, só o baixo para quem quero e quando quero, mas só se me quiserem e eu o sentir.]
Aqui no meio das minhas leituras veio-me esta ideia: há pessoas a quem foi incutido o princípio de terem princípios, só se esqueceram de lhes incutir os princípios.
Deve dar daquelas sensações de se saber que se tem de fazer alguma coisa só não se sabe o quê acerca de nada.
É um bom princípio ter princípios, mas é só um princípio, o fim é tê-los e, assim, saber agir.
E princípios não são obrigações, são pilares.
Honestidade, lealdade, gratidão e respeito - eu diria que são os fundamentais nos seus sentidos latos; tudo o resto resulta ou baseia-se nestes. Até o amor, ou principalmente o amor.
Bom, basicamente tudo em que me falharam nos últimos tempos.

(...)
una mujer desnuda y en lo oscuro
es una vocación para las manos
para los labios es casi un destino
y para el corazón un despilfarro
una mujer desnuda es un enigma
y siempre es una fiesta descifrarlo

una mujer desnuda y en lo oscuro
genera una luz propia y nos enciende
el cielo raso se convierte en cielo
y es una gloria no ser inocente
una mujer querida o vislumbrada
desbarata por una vez la muerte.

Mario Benedetti

[...uma vocação para as mãos, para os lábios quase um destino, mas não é precisa escuridão...]
Boa Noite