Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

21 julho 2012

Por muito que não queira, por muito que me esforce por não me lembrar, as coisas aparecem-me na cabeça à minha revelia, lembro-me de como me dizia que mal acordava a primeira coisa que se lembrava era de mim, que à noite era o mesmo. Que por isto e aquilo se lembrava de mim, que pensava muito em mim, a toda a hora. Lembro-me disto, acho que porque não entendo para onde tudo isso foi, como é que se arruma isso tudo numa gaveta, e não se pensa mais nela nem no que lá trancámos dentro? Como se faz isso? E porque é que não o consigo fazer também?
Como é que se faz? Rodeamo-nos de gente? De conversas que às vezes nem ouvimos? Fazemos como? Eu não consigo, e procuro ocupar a cabeça para que ela não funcione contra mim, mas depois olho para qualquer coisa, uns óculos, alguém a mergulhar num sítio em que já o tinha visto, uma frase, alguém que é conhecido dele, qualquer coisa o arrasta para o meu caminho, mesmo para a minha frente, de maneira a ser impossível desviar ou evitar, e tudo, mas tudo, na vida o afasta de mim. Procuro a todo custo racionalizar, dizer que será melhor assim, que se a vida sempre o afasta de mim, se ele sempre escolhe afastar-se de mim, é porque é melhor assim, e que não posso obrigar ninguém a gostar de mim, e quem gostasse, não fazia o que me fez. Ainda assim a minha cabeça trai-me a cada cinco minutos. E não percebo como faz para que isto não lhe aconteça, só pode ser mesmo as coisas serem facilmente ditas, mas dificilmente terem sido sentidas.
Só pode.