Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

15 junho 2014


Tus manos son mi caricia
mis acordes cotidianos
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos

tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro


tu boca que es tuya y mía
tu boca no se equivoca
te quiero porque tu boca
sabe gritar rebeldía

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos

y por tu rostro sincero
y tu paso vagabundo
y tu llanto por el mundo
porque sos pueblo te quiero

y porque amor no es aureola
ni cándida moraleja
y porque somos pareja
que sabe que no está sola

te quiero en mi paraíso
es decir que en mi país
la gente viva feliz
aunque no tenga permiso

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Mario Benedetti

[e depois tropecei nisto. este homem, o que escreve toca-me, ou ando assim mais para isto, para este doce deambular pela vida... fui à procura da tradução para português, mas algo se perdia na tradução, este melado das palavras, este musicar de frases (podem ler uma das traduções aqui). O engraçado foi encontrar duas traduções para o título do poema "Te quiero", há tradução para "Te quero" e para "Te Amo" (português do Brasil, está visto). Estranha esta língua nossa, que de tão vasto vocabulário, de tão pequenas diferentes nuances, parece tratar diferente uma mesma coisa. Parece até confundir, baralhar. Ninguém ama alguém sem a querer, e ninguém quer realmente uma pessoa se não a amar (digo pessoa, enquanto pessoa inteira, e não mero caso de pele que se esgota ou vai esgotando, e que também aqui é um querer, mas uma fome que se sacia no comer, ou outro não se sacia). Fiquei a pensar no que escolheria, lembrei-me do "adoro-te" que prefiro ao "amo-te" se souber, se sentir, que quer dizer o mesmo mas com uns pozinhos ainda de paixão, de adoração, de fogo. Também aqui preferia o "quero-te", porque eu só posso querer quem ame realmente, mas o "quero-te" risca de todo e qualquer cenário o amor à distância, platónico e morno - quero-te é urgente, e é forte, e é força, onde o amor se deixa dormir. Quero-te. Sem dúvida.]

Acordei nua, mas sem mãos. Procurei não procurar na memória quando terá sido a última vez que acordei assim sem ser culpa do calor que me sufocou ao amanhecer, e me fez tirar tudo o que tinha em cima do pelo e ficar pele na pele dos lençóis. As mãos, essas coisas que me atraem e fazem as vezes congelar o tempo, mãos malandras que fazem rir e querer. Rir muito, querer demais. Mãos que são difíceis de encontrar e fazer a minha pele querer e rir. Pouco que fosse.
Acordei tarde - se estes domingos tivessem horas, suponho que seria tarde- e sem nada em casa que se almoce, ou vontade de o fazer, decidi por aquilo que as pessoas finas chamam brunch, e eu que estou fininha, fininha, apesar de foleira, também tenho direito a usar o termo em vez de pequeno-almoço-a-fazer-de-grande, começo a fazer dois ovos mexidos (que me lembraram outros que fiz há três meses atrás...) umas torradas, um café para pôr no leite à falta do chocolate que acabou, juntei uma dúzia de cerejas que restaram e um fim de tarte de maçã, que apesar de já não estar fofinha, eu nunca o fui e não foi por isso que deixaram de me comer... Ora a tarde merece pelo menos o mesmo tratamento, e em não havendo outra, serviu bem para sobremesa (são as coisas da vida, ser a sobremesa possível...) acompanhada com um bom bocado de gelado de baunilha. Tudo posto numa bandeja e levado para a varanda, depois de desencantar um robe de verão, que a minha varanda não me deixa entrar lá nua...
E agora aqui estou eu, a fumar um cigarro e a escrever baboseiras, e a lembrar-me doutras, enquanto o sol já me sobe pelas pernas... Malandro. Cadê as mãos?
... Apetecia-me. 
Isto. 
Assim.
 Gargalhadas, brincadeiras, sussurros, caras juntinhas, beijos e beijinhos a entremear tudo, até poisar a cabeça na melhor almofada, feita peito que me acolha e me proteja, que queira ser o meu porto seguro, e que tenha uns braços que me envolvam em segurança, onde sempre me possa render ao fim do dia e deixar-me embalar num sono doce e tranquilo - paz plena. Há quem chame Felicidade. 
Os nomes a mim não me interessam, os rótulos são só indicações para o exterior, para os outros. Mas não me interessa que percebam ou não, isto não é para perceber, não preciso que percebam - não isto pelo menos -, só quero sentir: é o que eu quero sentir. 
Outra vez.
Boa Noite