Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

20 maio 2010

Há sítios estranhos que descubro em mim... recantos que não conhecia... e que se apagam quando me venho embora... como ossos que não sabemos que temos até mergulharmos o pé em água gelada e pela dor descobrir peças que não conhecíamos... com ele é assim... como descubro outras em mim, que se esquecem que são, que existem, quando não tenho os seus olhos nos meus, a sua voz no meu pensamento, as suas mão nos meus sonhos... Há partes de mim que não existem, ou que não sabem que existem, quando o deixo... e depois vem a mágoa, a dor, a razão e a realidade arranhar-me a alma e rasgar-me os sonhos... e sinto que morro um pouco... Penso o que pensará... penso o que sentirá... sinto que saber me acordaria, me ajudaria a desembrulhar o novelo em que me fechei, em que me despedi da minha vida e das realidades banais, sem ter ainda chegado a lugar algum... como se tivesse partido numa viagem sem destino que o destino me arranjou, e não saiba onde, nem como, nem quando chegarei a um porto que me acolha... sabendo que quem partiu não existe mais... não sei como chegarei ao fim do caminho... em que me tornarei? quem serei?... se afinal esta sou eu? como andamos tão escondidos de nós? tão fugidos de nós? porque temos tanto medo de nos descobrir? de nos magoarmos? se tudo faz parte?... de nós? até a cobardia... Penso em todos os caminhos que não vi... todos os recantos que não encontrei em mim... todas as gavetas fechadas que tranquei para a tentação não me assolar a curiosidade.... e afinal... mesmo trancadas, pessoas há que não precisam de chave... são a chave! e todos os medos, todos os pesadelos, todos os fantasmas lhe fogem à passagem, tomando conta da metade de mim que não é minha, sendo minha por ser dele, roubando-me os pensamentos, alimentando-me a alma e matando-me a razão... e abandonando-me ao desprezo da realidade que me mata a cada dia. Quantas chaves não terei visto? Quantas gavetas por abrir? E quando e como fechar esta? e com ela toda a luz que me inunda ? que me aquece e me cega?