Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

31 outubro 2012

Seria tão fácil, estenderes-me a mão, alcançares-me. Falares-me, dizeres-me uma e outra vez o que for que sentes, se sentes. Tranquilizares-me os medos, apaziguares-me as ânsias, acalmar-me as inseguranças agudizadas pelo tempo que te escapa das mãos através dos dias e das noites que passas longe. Seria tão fácil, se o quisesses, se não quisesses a distância a que me queres manter. Se não  quisesses tão desoladamente deixares-me do lado de fora da redoma em que te queres trancar, em que queres tecer essa manta de passados sem futuro, para depois a trancares numa gaveta no fundo de ti, que só abrirás para te aquecer a vontade de doçura, de ternura, que quiseste perder, afastar, arrumar e trancar, dizendo que era o que tinha de ser, que o frio é a tua casa, que é o que tem de ser. Não é por ter já repetido vezes sem conta que te quero, que te sinto a falta, que o meu sítio no mundo é o teu colo, que o meu lugar é o teu olhar e que o meu tempo és tu, que deixo de o repetir, que deixarei de o dizer. E nunca guardarei cosido ao meu silêncio tudo isto e outro tanto que fosse preciso para te deixar melhor, para que não me duvides e do quanto te tenho dentro, o quanto de mim és tu, e sem o que não sei viver, mesmo trancada. Seria tão fácil, mas mais fácil é o silêncio e as tuas mãos trancadas com o bilhete premiado por levantar dentro (ainda te lembras de dizer que te tinha saído a sorte grande??).