Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

22 maio 2014




"O que custa é o dizer não. Semanas, se calhar meses, de um estado do qual não temos propriamente consciência. Apenas sentimos que não estamos bem, que não é aquilo que queremos.
Quando estamos habituados a só chorar no escuro do cinema, só nos permitimos chorar quando a porta se fecha atrás de nós, atrás de ti, quando a separação é irremediável.
Mas é quando dizemos não, quando treinamos a aprendizagem do não, quando dizemos que sa foda esta merda toda, que os verdadeiros milagres acontecem. Quando é o universo a fechar-nos uma porta, só temos de procurar uma outra e abri-la. Quando somos nós a fechá-la, o universo abre-nos automaticamente outra. No fundo, a mostrar-nos que apenas temos de aprender a fechar a porta.
(...)
As feridas por lamber. O medo de me dar. O pânico de te receber. A gestão de sentimentos tão contraditórios como a perda e o ganho. A exposição pública – se à esposa de César não basta ser, imaginem à viúva; as preocupaçõezinhas com as convenções sociais do ainda agora se separou e é vê-lo aí com quem primeiro aparece, que isto dos garanhões, na verdade, é para muito poucos. É tão difícil lidar com a culpa, sobretudo quando não a temos, na verdade as coisas são como são. "

Do velho "que sa foda" pela mão do Pedro... há tempos que não dizia este "que sa foda!!"...
...que sa foda!!... um dia também me devolverei o sorriso por alguém.

"Escolhe os teus rituais, torna rituais os teus hábitos, apercebe-te do que fazes quando o fazes. O tempo é a única coisa de que não vais ter mais. Aproveita-o, não por mudares de vida nem fazeres coisas diferentes todos os dias, mas por sentires, a fundo, cada coisa que fazes, e ao sentires as entenderes, e as escolheres, e as fazeres plenamente, e seres feliz por isso.

Não voltar a olhar o pôr-do-sol como se fosse apenas mais um, não voltar a tomar café sem o saborear e sem pensar na felicidade desse gesto simples, não voltar a fumar um cigarro sem que nos dê prazer. Não dizer “bons sonhos” como se fosse uma frase feita, muito menos dizer “amo-te” só por não ter mais nada para dizer. Não voltar nunca a beijar quem amas como se isso fosse um hábito. Como se um beijo não fosse extraordinariamente importante, como se cada beijo não merecesse, impreterivelmente, ser vivido, ser sentido, ser recebido, ser dado."

Do Menino. Lê-lo é um ritual. Como o último cigarro do dia, já a seguir.

"Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas coisas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (...) Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas."

António Lobo Antunes

[Digo muitas coisas sem falar, mas são exactamente o mesmo que digo quando falo. E há coisas que por muito que diga, falando ou não, que não se gastam... infelizmente.]