Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

29 julho 2015

"A lua é o mais mutável dos corpos do universo visível e o mais regular nos seus complicados hábitos: nunca falta aos seus encontros e pode-se sempre esperá-la no caminho; mas se a deixas num sítio encontra-la noutro e se te lembras da sua cara virada para um lado, ei-la que já mudou de pose, por pouco ou muito que seja. De qualquer forma, se a seguirmos passo a passo, não nos apercebemos de que ela nos vai imperceptivelmente fugindo.(...)
Corre a nuvem, de cinzenta que era passou a ser leitosa e brilhante, o céu atrás dela tornou-se negro, é noite, as estrelas acenderam-se, a lua é um grande espelho resplandecente que voa. Quem reconheceria agora nela a lua de algumas horas atrás? Agora é um lago de luminosidade, que espalha raios de luz à sua volta, entornando no escuro um halo de fria prata e inundando de branca luz o caminho dos noctívagos."

Ítalo Calvino, in Palomar

[eu gostava de ser lua. Será que se eu quiser muito consigo ser lua? Nunca na mesma mas sempre a saberem o que esperar de mim? Quanto mais fechada a noite mais brilhante a minha luz, a minha alma? Irreconhecível comparada com semanas, anos, atrás? Será? ]