E, ao amaldiçoar o carácter de Matilde, amava-a cem vezes mais; parecia-lhe ter uma rainha nos braços.
A impassível frieza de Julião redobrou o desgosto de orgulho que dilacerava a alma da menina de La Mole.
(...)
despreza-me, se quiseres, mas ama-me; não posso viver privada do teu amor! - e caiu desmaiada.
"Aqui está, enfim, esta orgulhosa a meus pés!", disse para consigo Julião. "
Stendhal, in Vermelho e negro
[... E a isto se resume esta história, e tantas, tantas outras. O quebrar o orgulho de alguém. Não será apenas para refazer o próprio orgulho? Amor não será, digo eu... E para isso não olhar a meios, fingir amar outro alguém, fingir frieza e desprezo, acicatar o orgulho alheio para o seu triunfar, no fundo. Amor? Será? Ou apenas um jogo podre de poderes amargos? De subjugação de quem dizemos amar? De só sentirmos o amor que queremos do outro e sentimos por esse alguém, quando o tratamos mal, quando fingimos não amar, quando lhe quebramos o orgulho e o subjugamos a nós? Isto é amor?
Amor, para mim, não é uma relação de poder, é talvez aceitar não ter poder algum sobre o outro, sabendo que nos tem. É aceitar termos o coração noutro peito e esperar que no nosso habite o dele. ]