Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

24 fevereiro 2015

E há pouco, de repente, sem pensar - sem saber que o pensava -, vi-te naquela cama, moribundo, mas não eras tu que sofrias, não eras tu que morrias, era eu em ti. Deixavas-me morrer e senti-me sofrer por isso, morrer nisso. Eras tu que eu via nesta cama, mas era eu que me sentia morrer mais um pouco. Como se houvesse sempre mais para morrer do que se sabe viver. Sempre mais um pouco de morte, das mortes que não sabemos ter, mas nos encontram. De repente foste tu naquela cama, mas quem morre sempre sou eu. Morro em ti mas sobrevivo para o ver - para te sentir a indiferença de deixares-me morrer em ti por nunca te ter sido vida. Posso morrer-te que nada em ti morre. Só em mim, só eu. 
[finalmente dorme, e eu despejo-me.]
... O Kafka espera-me...

Boa Noite.
" Nunca estiveste realmente onde não te tenhas perdido, onde não tenhas amado nem beijado nem sofrido, onde não tenhas sorvido o frio da noite, o céu da manhã. 
São diferentes os lugares que se aprendem dos lugares em que o corpo se ensopou."


[Talvez quem não se ensope não saiba perder-se, não saiba que só perdido se reconhece na alma a casa onde somos. Onde sofremos, amamos e beijamos; onde nos aquecemos, porque sentimos o frio da noite, mas não medo. Onde acordamos por podermos adormecer ensopados em nós, no que somos, onde estamos.]