Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

30 dezembro 2014


... hoje que todos falam no ano que está a acabar, e que a renovação se espera e deseja, eu vejo esta imagem, e o que sugere é a ideia perfeita que faço do próximo ano. 
Eu, que em tão poucas coisas sou supersticiosa, sempre o fui com a passagem de ano, como se a visse como um prenúncio de como o ano vai correr. Se estiver bem, animada, e rodeada das pessoas que me fazem risos e sorrisos, e eu com vontade de futuro fico com a sensação que posso ter esperança, que o ano vai ser uma lufada de ar fresco, e que pelo menos essa sensação nos renova um bocadinho... mesmo que seja apenas uma espécie de jogo mental, uma espécie de mentirinha motivadora inocente, porque o certo é que os dias nascem uns dos outros sem nada que uma data modifique significativamente, mas se nos mudar a nós um bocadinho, pode ser nós mudemos também o que está à nossa volta, o que fazemos, e o que deixamos de fazer. 
Este ano parece que nem dou pelo fim do ano, ou melhor, não dou pelo começo de outro, não dou por começos, não dou por nada, não dou nada, tudo me parece meio amorfo e igual, parado, mas no fundo está tudo diferente, e do que se avizinha mudar nada é para melhor. 
2015 parece-me apenas um barril de pólvora a brincar com fósforos. E eu a ver.
Veremos.

[adoro esta música, talvez tenha sido esta música,
 ou os últimos dias do ano, o que fica o que vai, não sei...]

O caminho é o mesmo... faz-se todos os dias mas nenhum dia é o mesmo. 
Hoje não sei porquê, talvez uma parte do caminho, as cores que se assemelharam, qualquer coisa, que não sei o quê, me levou para àquele dia. Fazia este mesmo caminho, cheia de medo e feliz. Tão feliz quanto o medo me deixava, me prendia nas garras que se sentem quando nos sentimos grandes e leves, mas não seguros. Era talvez medo da felicidade que sentia e não queria sentir, por medo. E disse-o - pela primeira vez assumi abertamente a alguém que estava com medo -, não um medo vago, medo de acreditar na pessoa, medo dele e de tudo aquilo: do que me dizia, da certeza que aparentava, do discurso todo diferente, mas seria diferente?...e nem sei o que sinto quando percebo o que fizeram com isso, como pegaram nesse medo, o multiplicaram, o enraizaram em mim, o semearam para sempre (será para sempre ou parece só que é para sempre??), medo das pessoas, de acreditar, de me entregar às pessoas, ao Amor, à esperança na felicidade. Mataram-me o medo, substituíram-no pela certeza de não esperar, não acreditar, de ver mentira onde se devia confiar no sentir, no querer, no abraço que me deram, no meio do nada, dum sítio perto de coisa nenhuma, mas perto um do outro. Onde me disse que se sentiu em casa quando me abraçou, o abraço como um lar que acolhe com doçura,  onde disse que teve a certeza, onde concluiu dizendo que não conseguia estar sem mim, que tinha saudades, que queria ficar comigo... onde me perguntou se eu tinha saudades e se o queria, e brincámos por eu não querer responder, porque fiquei tantas vezes sem resposta a tanta coisa que também ele teria de saber o que era trocar uma pergunta, o querer saber, por silêncio. Por incerteza, por insegurança, por medo de não saber do outro. E falámos de férias e de viver junto, de ele querer um futuro, porque sem mim não conseguia. Sem mim nada fazia sentido. E hoje o caminho fez-se, sem sentido, na confusão de sentidos e sentimentos sentidos que não se desembrulha de mim, dos dias que passam, do caminho igual todos os dias, da música que se percebe que se ouve no meio de tudo isto, de todas as imagens e sons que hoje o caminho me trouxe, tendo-me deixado no meio do nada com os carros parados, há meses atrás, num abraço que foi uma casa que alguém quis muito para abandonar. No meio do nada, com nada.
Chego ao destino e penso no destino de me teres esquecido e de eu por momentos me ter esquecido de te esquecer. Por momentos. Amanhã o caminho será o mesmo, mas será diferente. Não o teu destino, mas o meu.

Bom Dia

"Todo o meu corpo está a arder quando chamo o teu nome e tu estás nua dentro dessas sílabas.
É então que mais quero fazer amor, para confirmar que os teus braços fazem parte de uma luz antiga que despe o meu olhar."

Joaquim Pessoa

Boa Noite