Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

15 julho 2013


(...)
Uma relação sem ciúme é uma ralação. Uma tremenda seca. Alguém que é capaz de se entregar a outro sem temer, nem por um segundo, que esse outro não o retribua só a si é alguém que não ama; é alguém, isso sim, que grama. Que grama estar acompanhado, que grama saber que tem alguém ao lado, que grama o conforto de uma relação. Mas quem grama não ama. Gramar é o exacto oposto de amar. Amar é ser do amor. Ser só do amor. Ser aquilo que o amor é. Ser aquilo que o amor manda. Ser amor. Ser só amor. Amar não pode ser gramar porque gramar suporta. E amar importa. E importa-se. Importa-se com tudo que possa criar obstáculo ao amar. Ao só amar. Quem ama não grama. E acima de tudo não grama quem grama. Quem ama não é gramável. Nem sequer é amável. Quem ama ama. Simplesmente isso: quem ama ama. E está-se nas tintas para quem não o grama.

Quero defender o ciúme. Defendê-lo até à exaustão. Defender o ciúme que não se deixa pisar pelo politicamente correcto, o ciúme que não se esconde na capa de um sorriso, o ciúme que se mostra com orgulho em toda a sua pujança, o ciúme que não se apaga só porque leu numa revista no consultório dentário que ter ciúmes não se faz. Mas faz-se. Ter ciúmes faz-se. E faz-te. Faz de ti mais amor, mais realidade, mais verdade. Ter ciúme é ser inseguro. E só quem é inseguro oferece segurança. Quem é inseguro sabe que acaba, sabe que um dia acorda e não consegue acordar, sabe que um dia quer e já não pode (até com “f”), sabe que um dia sonha ir e já não dá para ir. Quem é inseguro sabe que o que existe vai deixar de existir. E existe. Quem é inseguro existe. Existe em pleno. Existe no que é. E luta pelo que é e quer manter como é. Quem é inseguro ama com urgência. E só se ama com urgência. Só se ama como se numa ambulância, como se no último respiro, como se no último afago. Só se ama com urgência. Só se ama como se acabasse no segundo seguinte. E por isso o segundo, este, exactamente este, é o segundo final. E amar só é, só tem de ser, uma sequência de segundos finais, uma interminável (mesmo que terminável) sucessão de segundos finais entre quem se ama. Amar é inseguro, amar é ciúme, amar é urgente. Amar – quando é amar - é-te tudo. E é tudo. (...) 

Pedro Chagas Freitas


[não entendo as pessoas que dizem que não têm ciúme, não entendo a falta de medo de que alguém veja na pessoa de quem gostam o mesmo que eles viram, e que não tenham insegurança nenhuma no poder perder o que supostamente gostam. não entendo, mas isto sou eu que sou estúpida, e que gosto das pessoas e acho que facilmente outras pessoas podem gostar...]

Não, obrigado.
Eu apanho o próximo.

Boa Noite.