Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

01 abril 2015


... Eheheh... Pois há aí muito macaco, mas a Eva não tem nada a ver com isso, é outro galho da família, e cada um no seu...
(Temos de nos rir, ou eu tenho...)

Bom Dia
Da minha janela vejo uma linha viscosa onde deveria ver-se a linha do horizonte, há um nevoeiro pastoso que encobre o fim da terra que (não) se vê. Acima dela um negro fechado, sem estrelas. Se calhar há alturas na vida em que os horizontes, ou o sitio onde os esperamos encontrar com o olhar, se perdem numa estranha pasta viscosa, quase como areias movediças, onde nada é  certo e a tendência é esbracejar. Provavelmente estou num desses dias, dessas fases, e se calhar também por isso, atentei hoje à estranha aparência que me entra pela janela de todos os dias. Desde que me sentei aqui à janela a ver a rua e a pensar nisto, a vista foi clarificando, tornou-se mais límpida a imagem, ou talvez o olhar, quem sabe. Agora olho e já não vejo deformada a linha em que o olhar se despede, o rendilhado dos telhados, dos edifícios, das luzes por dentro da vida que os habita, já se distingue. O horizonte já se desenha de lápis bem aparado. As nuvens, por espessas que sejam, dissipam-se, a vista despe o véu, talvez também a vida assim seja. O tempo dissipa-nos, talvez para vermos melhor, ou apenas para realmente vermos - além do véu, além do engano, para lá do desengano. Os meus horizontes ainda não os consigo desenhar a fino traço, nem sequer borrões cheios de intenções, ainda caminho pelo nevoeiro denso, que se cola à pele pelo avesso e turva por dentro o olhar. Parece que não sinto, que não vejo. Presa, ainda que não perdida, faltam-me sentidos, e pior, o sentido. De tudo.
E agora espreito um canto do céu e vejo a lua: límpida, clara, luminosa, despida de qualquer véu. Houve noites em que eu fui lua. Será que alguém viu?

Boa noite