Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

10 dezembro 2014





(...)
el corazón a veces nos despierta a los gritos
y uno se vuelve sordo de ternura
(...)

Mario Benedetti


[a alma a queimar gritos
a pele a derreter sussurros

lábios que não vêem
olhares que não ouvem.

palavras que não falam,
sonos que não dormem

beijos que despertam,
almas que fogem.

tempos que passam,
eternidades que ficam.

onde a saudade se demora
a ausência não mora.

se a distância aparece
de amor não se padece.


( leio duas linhas deste homem e o que não queria sair começa a correr-me pelos dedos...) ]
Porque às vezes as noticias não são tão péssimas como se estava à espera,
ficamos quase felizes. Quando o menos bom nos tira muitos quilos de peso de cima não há nada que esteja bem, mas temos a certeza de que poderia estar pior. Ou vamos acreditar que sim. Não sou uma mulher de fé, nem de esperança, nem de optimismos, acho que sou - ou tento ser - tão realista que me torno pessimista, porque a realidade tem essa coisa de normalmente nos tirar o tapete da pior maneira e nos enfiar um balde de água fria pela cabeça abaixo na pior altura. Depois há quem ache que dá a volta a tudo, que tudo acabará por correr bem e às mil maravilhas, e há quem sucumba perante a falta de chão, andando à procura dos pés durante uns tempos. Eu penso pertencer ao segundo grupo, caio, ando  uns tempos à procura não sei de quê, acho tudo uma valente merda, mas no caminho percebo que estar no chão não melhora nada, e depois de me deixar cair obrigo-me de alguma maneira a levantar. Mas não encaro normalmente as coisas com a ideia de que tudo vai correr pelo melhor, isso não, apenas de que vou fazer o melhor que possa, e depois logo se verá o que a vida me responde. Sendo que raras vezes ela não se tenha mostrado duma educação muito duvidosa... Portanto, não gosto de esperar grande coisa. Desde que me conheço que sou assim, e os anos só me têm reforçado a (des)crença.
Mas hoje estou uns quilos mais leve que ontem, e gostei deste mocinho quando lhe pus os olhos em cima... gosta do ar sério de gaiato traquina, a armar em solene só porque tem um ramo de flores entre os dentes e vontade de parecer grande.... a mim desarma-me. Dá vontade de dar festinhas e brincar com o gaiato e fazê-lo rir naquele ar solene que tenta pôr...Deve ser um grande parvo, é o que é. Normalmente são esses que me desarmam e nem precisam de vir com flores...
Bom Dia!
... E agora era isto. Colo. Estar perto e estar junto.
Voltar a respirar fundo, sem nós na garganta.
A aflição afrouxa e o espírito descansa, contentando-se com o melhor do pior, quando já só esperávamos o pior do pior. E, então, com o fim do dia, o sofá, e a descompressão, a vontade da paz do colo em silêncio aparece inteira. Ter alguém, não para nos aliviar do que não é bom na vida, do que é nossa responsabilidade, mas para nos fazer aproveitar o que é bom e vale a pena, e nos permite equilibrar o peso de aguentar tudo o resto. 
E aproveitar o que é bom também é responsabilidade nossa. 
Se tivermos calor para dar, e paz, e colo. 

Boa Noite