Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 abril 2015


Perto de mim há sempre um lugar vazio que me lembra o vazio do lugar. Lembra-me o que lhe falta, o que me falta, e que a mim sobra-me sempre um lugar vazio. E eu a ocupar uma cadeira, mas não há lugar para mim. Curioso.
(foto @blackandwhiteisworththefight)

... Na varanda, com a manta a enrolar-me ainda. A ponta ardente do cigarro arranha escuridão, e eu penso em tudo o que tem acontecido e no que não pára de acontecer; em tudo o que se cruza comigo, tudo o que vejo partir e todo o medo que me parte. No entanto, e paradoxalmente, tenho cada vez menos a perder.
... O cigarro acaba, mas as palavras não acabam de falar-me, ainda que eu não as saiba dizer para as despejar aqui. De repente parece que não me sei, que tudo me foge das mãos, quando se calhar o que me foge são as mãos para agarrar alguma vida. O chá ao meu lado ainda está morno, eu estou fria de tantas mortes, em mim e fora de mim que me chegam dentro. Em mim tão adiadas, fora de mim tão antecipadas. Todas me gelam, por dentro e por fora.