Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 julho 2014


"Mostraste-me que havia outra vida, bem menos complicada mas mais rica, mostraste-me que pensar não é sempre melhor que não pensar, e muitas vezes é muito menos útil que sentir.Levaste-me para dentro de ti, entraste comigo dentro de mim. E o teu lugar fez-se o meu lugar. Fizeste um lugar nosso – e eu não sabia que podia haver lugares assim.
Depois sentaste-te, deste-me a mão, ficámos longamente em silêncio. Não porque se esgotassem as palavras, mas porque as palavras não são tudo – há coisas que só se ouvem nos silêncios.
E eu nem sabia como era importante tudo o que mostraste, nem sabia que iria não saber viver sem isso. (Ou não querer. Saber sabemos sempre. O amor, esse, é feito é de vontade.)"

" o amor, esse, é feito é de vontade." vontade de amar o outro, ser amado por ele e amar esse amor que se tem e quer. mas há quem ame e ame o amor que sente mas não seja amado, e quanto a isso não há vontade que sirva. Por muito que se queira, ou por muito que não se queira ver isso.

"Tu não sabes ser jardim, só sabes ser jardineiro." 
Frase duma amiga devia eu ter quinze dezasseis anos. E tenho pensado muito nisto. E no porquê disto. Concluo que como me parece que nunca irão realmente gostar de mim preciso que as pessoas precisem de mim, porque assim penso que mais dificilmente me deixarão ir. Mas não é verdade. Realmente as pessoas não gostam de mim, mas das minhas faculdades, do meu tratar delas, mimá-las, arrumá-las um pouco e à bagagem que lhes pesa. Consertá-las, fazê-las crescer enquanto pessoas, se calhar. Depois disto não precisam mais de mim, e então batem asas de mim, uns porque já viram o que tinham a ver, e dizem que aprenderam tanto comigo (obrigada, a sério, é mesmo o que uma mulher apaixonada precisava de ouvir), outros porque ganharam a segurança que não tinham, mas todos facilmente me substituem e vão lá à vidinha deles. Como sanguessugas. E eu, eu só escolho jardins para cuidar e para me dar que realmente goste, e depois fico sem nada, deixo só um jardim arranjadinho para alguém a seguir a mim usufruir. Mas em cada canteiro deixo um pedaço de mim que me falta quando me expulsam. E eu já devia saber tudo isto antes de o pensar e aqui escrever, porque há tanto tempo já que digo que gostar não é precisar, é precisamente o contrário, é não precisar do outro para nada, mas ainda assim querê-lo, porque nos sentimos o melhor que somos e podemos ser com ele. Porque nos sentimos a partilharmo-nos de igual para igual. Sem utilidade nenhuma. A utilidade é subserviente, o amor é tudo e basta-se a si mesmo. O jardim existe sem jardineiro, o jardineiro não existe sem jardim.
...sim, que estou farta de ajudar com as malas dos outros, fossem quantas fossem, muito pesados ou pouco, difíceis de abrir ou não, nunca desisti de ajudar com as malas de quem eu gostava. Aliviar o peso, arrumar a vida passada para ajudar a arrumar a de agora. 
Curiosamente nunca se incomodaram com as minhas, se eram muitas ou poucas, se me pesavam muito ou pouco, acho que nem queriam dar conta delas... é mais cómodo.


Dia mais atribulado do que gostaria, mas a noite compensou, e hoje espero que o santinho do bom sono e dos sonhos melhores me assista. Estou mole e cansada e amanhã talvez seja dia de pôr areia num livro, um bikini no corpo e sol na pele num sítio qualquer com pouca fauna e muito descanso. À minha varanda só falta a areia, se não contarmos com a que substitui os miolos em certas alturas. E uma eventual molhadela de patas em água salgada... Logo se verá, não gosto de muitos planos.
Boa noite... Assim o espero...