Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

21 janeiro 2015


Vive-se sozinho, meio acordado, numa espécie de torpor. E no interior das pálpebras fazemos aparecer o rosto amado.
Gostaríamos que estivesse aqui, ao alcance das palavras que reinventamos para lhe sussurrar, ao alcance da mão e da boca, ao alcance dos sentidos e do desejo imediato.
Um ardor estranho sobre a pele e nos olhos impedem-me de continuar vivo. Morro sem pressa. Começo por cegar para conservar o teu sorriso (...)

Al Berto

[cada vez gosto mais deste senhor.. sombrio, é certo. mas intenso. denso. profundo de sentidos e significâncias. gosto. ofereci o livro e agora, de vez em quando, vão chovendo frases que me transcrevem, e eu convenço-me de que tenho de o comprar para mo oferecer. para ler as frases todas, não só as que retinem na cabeça de outro alguém que de manhã me deixa mensagem só a dizer que esta ou aquela frase não o larga. e eu oiço-o, leio as frases, e leio-as como quem reconhece uma vida que já teve, que já sentiu, que já teve aquelas frases a correrem-se no sangue quente de um sorriso que se vive. daquele sorriso que tenho de cegar para conservar. para nada me distrair, para nada mo levar. é que uma pessoa pode-se desapaixonar de repente, dizem-me. Apaixona-se, está apaixonada - muito, muito, não consegue esquecer nem viver sem - e depois, um mês, dois, depois já não está apaixonada por ninguém. por nada. será que se ouvissem estas frases as reconheciam? ou sempre foram cegos e não conservaram nada. de ninguém?
...e isso, isso, desapaixona-me também... a falta de densidade, de intensidade, da profundidade do que se sente, e a leveza do que se diz, sem nada se sentir, nem de leve... ]